quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Rocha e Melo, Oliveira de Frades, Vouzela e a CUF...

Rocha e Melo, uma família em muitas terras Da Casa da Cavalaria às Quintas de Torneiros e das Lamas CR Numa série de eixos regionais, a família Rocha e Melo cruza os seus caminhos e o seu destino por vários horizontes e altos voos. Entre os seus diversos elementos, um deles, o João Osório da Rocha e Melo, chegou a ser um pilar essencial de Alfredo da Silva, o homem e o empresário todo poderoso da CUF e outras unidades industriais. De um livro, intitulado “ Industrialização em Portugal no século XX.... “, mostra-se logo a sua ligação a Oliveira de Frades, quando aí se escreveu que por aqui passou “ em passagem... a fim de se reunir com seu pai e seu avô... “. Vem, porém, de longe, de muito longe, esta história familiar, como nos indica Luís Alberto Castanheira Fernandes Gouveia, na sua muito recente obra “ Oliveira de Frades – A terra ... e suas gentes, 2020”. Reporta as origens da Quinta de Torneiros, berço-mor destes cidadãos, à Quinta da Cavalaria, Vouzela, uma vez que aquela Quinta e aindas as da Devesa e do Couto tinham pertencido aos Almeida daquela nobre e senhorial Casa. Por outro lado, a certa altura, José Bento da Rocha e Melo, com o mesmo nome de seu avô, e filho de Manuel da Costa Pinto de Melo, além de ter construído a Casa dos Arcos (hoje propriedade de Armênio da Silva Florindo e que chegou a ser sede do Externato Lafonense) e uma outra, veio a adquirir a Quinta das Lamas, em Vouzela, casa onde viveu durante algum tempo de sua vida e terra em que foi Advogado. Tendo sido também Governador Civil de Santarém, foi ainda Conservador em Lisboa e Deputado por Viseu nos anos de 1906/1907. Há registos também, como o NV de 16 de Julho de 1959, que indicam que foi Deputado pelo Círculo Eleitoral de Lafões, de 1903 a 1908, o que faz alguma confusão em termos de acumulação de datas, sendo este um tema a rever. Na sua vasta carreira pública e privada, aparece em 1885 como 1º sócio fundador dos Bombeiros Voluntários de Vouzela, de que foi também o primeiro Presidente da Direcção e Comandante. Nascido em Oliveira de Frades a 17 de Julho de 1859, faleceu no ano de 1938. Numa ligação profunda entre os dois concelhos, Oliveira de Frades e Vouzela, esta família Rocha e Melo ramificou-se também para Arouca e, acrescenta Luís Gouveia, a própria pedra de armas da Quinta de Torneiros ali está na posse da Família Vaz Pinto. Regressando, de novo, à Quinta de Torneiros, sabe-se que, em 1824, vindo do Brasil, José Bento da Rocha e Melo, casado com Ana Joaquina Cronwell de Guilhon e Melo, aí se fixou como seu herdeiro, depois de ter sido Juíz de Direito e de Fora, em S. Luís de Maranhão no país-irmão. Nessa propriedade notável da vila de Oliveira de Frades, nasceu seu filho, já citado, Manuel da Costa Pinto de Melo (1824-1902), que casou com Inês Armênia de Portugal e Vasconcelos, apelidos que, desde logo, fazem sobressair fortes ligações a casas importantes do nosso país desses tempos e mesmo da actualidade. Mais tarde, José Osório da Rocha e Melo, filho de José Bento da Rocha e Melo (neto), acaba por herdar as referidas Casa dos Arcos e Quinta das Lamas, aqui tido também vivido durante algum tempo. Com Henrique Sommer, fundou a fábrica de cimentos Macieira-Liz. Falando na Família Sommer, ficou famoso o processo que nas últimas décadas do século XX a opôs a António Champalimaud, num assunto que ficou para a história como o “caso da herança Sommer”, objecto de enormes folhetins nos jornais e meios de comunicação social de então. A tentacular CUF e os Mellos Coube a João, casado com Maria Antónia Ottolino, outro dos filhos daquele José Bento, ficar com a Quinta de Torneiros, constituindo-se, ao mesmo tempo, “braço direito de Alfredo da Silva”, o todo poderoso fundador do Império CUF, tendo passado a integrar o seu Conselho de Administração, facto que se projectou nos seus familiares mais próximos pelos tempos fora. Recorde-se que os tentáculos da CUF, com sede no Barreiro, abrangiam o diversificado mundo dos adubos, sulfatos, gessos, cerâmicas, sabões, azeites, tecidos de juta, enxofres, moagens, óleos, tanoaria, serração, fiação, cordoaria, ácidos, metalúrgica, transportes, seguros, tabacos, estaleiros navais, etc, etc, num universo empresarial que muito contou com o contributo do genro de Alfredo Silva, Manuel Augusto José de Melo. Se a Quinta das Lamas é, hoje e em parte, um bom projecto turístico, a Quinta de Torneiros não passa, quanto ao edifício central e nuclear, dum monte de ruínas a ser referenciado como um “monumento desaparecido” no blogue que se tem dedicado a inventariar o património que vamos perdendo ao longo dos tempos. Note-se ainda que uma grande parte daquele espaço acabou por ser dividido em vários blocos e em lotes para construção, processo em curso mas que tem custado a ser concretizado. A finalizar, como salienta Luís Gouveia, cabe aqui uma palavra especial para o último Feitor desta Quinta, José Moitas, que tivemos o prazer de conhecer e com ele conviver, que foi peça importante na gestão desse vasto património, em Oliveira de Frades e mesmo em Vouzela. Desta forma, em destinos cruzados, assim se fez parte da história de umas casas que deixaram memórias e alguns amargos de boca, porque a perda desse património é algo que dói e rói cá por dentro de todos nós... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Jan 2021

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