quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Padre Simão Azevedo, vouzelense e fundador da Companhia de Jesus....

Gente de Vouzela que pertence à grande História Padre Simão Rodrigues de Azevedo, fundador da Companhia de Jesus CR Homem da corte real, o vouzelense Simão Rodrigues de Azevedo (1510/1579) cedo evidenciou fortes dotes intelectuais e tanto assim aconteceu que, com uma bolsa da coroa portuguesa, foi estudar para o prestigiado Colégio de Santa Bárbara em Paris (1527), onde estabeleceu contactos com Santo Inácio de Loyola e com quem veio a fundar, com outros colegas, a célebre Companhia de Jesus. Esse feito colocá-lo-ia, de imediato, no pedestal da história a nível mundial. Pelo meio, teve algumas manchas, mas o seu nome não pode, nunca, desviar-se da importância que teve no percurso inicial desse poderoso esteio da Igreja a partir do século XVI. No estabelecimento escolar francês que foi frequentar pontificava o grande mestre, Diogo de Gouveia, o Velho, que dirigia o citado Colégio. Frequentando as Artes, obteve o grau de mestre, em 1536. Estudou também Teologia e foi ordenado sacerdote, com seus colegas de caminhada em Veneza, no ano de 1537, para mais facilmente virem a ser aceites como obreiros iniciais da Companhia, que fora então fundada, em 1534, por Inácio de Loyola, o francês Pedro Fabro, os espanhóis Francisco Xavier, Alfonso Salmerón, Diego Laynez, Nicolau de Bobadilla e o nosso conterrâneo Simão Rodrigues de Azevedo. Vivendo-se um agitado período na Igreja Católica, com a cisão Protestante, o Concílio de Trento impusera medidas duras de combate àquelas novas doutrinas e a Companhia de Jesus constituiu um seu poderoso braço forte em evangelização pura e no campo do ensino e da pedagogia, na fase da chamada Contra-Reforma. Depois de algumas hesitações, o Papa Paulo III, no ano de 1540, confirmou esta nova Ordem religiosa pela bula “Regimini Militantis Ecclesiae”. Estava assim dado o passo decisivo em que interveio, como sua pessoa forte, Simão Rodrigues de Azevedo, que se veio a notabilizar, como veremos adiante, pelas funções directivas que veio a abraçar. Antes, porém, entendemos que é hora de recuarmos até aos séculos XII e XIII para recordarmos um outro grande vulto da ciência (medicina) e da religião, também natural de Vouzela, S. Frei Gil. Tal como aconteceu no século XVI, também este Beato/Santo frequentara a alta roda do poder régio, vindo a obter o mesmo tipo de distinção, uma bolsa para estudar em Paris, depois de ter andado pelas escolas de Santa Cruz em Coimbra. Ligou-se aí aos Dominicanos e nessa Ordem foi elemento altamente destacado. Repetida em parte a história, o Padre Simão seguiu-lhe as pisadas alguns séculos depois, mas foi um pouco mais longe ao ter no seu curriculum o facto de ter sido um dos fundadores da Companhia de Jesus. Nesta Instituição, calcorreou diversos degraus desde o ponto de partida inicial até às viagens por Roma e outros locais, passando, já na fase da consolidação do projecto lançado, pelo seu contributo na fundação da Província em Portugal, de que foi o primeiro responsável, a pedido expresso do Rei D. João III. No nosso país, criou a primeira Casa em 1542, o Colégio de Santo Antão o Velho, um outro em Coimbra (1542) e de novo em Lisboa (1553). Dirigiu ainda o Colégio das Artes, naquela cidade (1555) e a Universidade de Évora (1559). Atendendo a estas datas e à futura ligação da Companhia ao Brasil, tendo esta cruzado com o nosso João Ramalho, em S. Vicente e em S. Paulo, de que foi um dos fundadores, é muito natural que as cartas enviadas pelo Padre Manuel da Nóbrega, jesuíta naquelas paragens e em choque, inicialmente, com o grande JR, tivessem alertado o Padre Simão, enquanto responsável em Portugal da nova Instituição, para essa figura vouzelense, seu conterrâneo, que tanto se notabilizava no Brasil e que tantos problemas suscitava à nova Ordem. Deve dizer-se que as queixas apresentadas tinham a ver com a sua vida pessoal e com o facto de viver com Bartira, o que era visto como algo que colidia com os princípios da Igreja, uma vez que se não sabia se sua esposa já teria morrido, ela que ficara por Vouzela quando ele partiu para o lado de lá do Atlântico. De preceptor de D. João III aos problemas diversos Subindo a nível muito alto na Companhia de Jesus, tendo sido seu primeiro Provincial em Portugal, em 1552, quando aqui se verificaram divisões internas, o Padre Simão foi nomeado Provincial de Aragão, Valência e Catalunha, o que enfureceu alguns de seus compatriotas. Seguiu-se uma fase negra na sua vida. Fruto de acusações de desobediência, viu-se condenado a não regessar ao seu país, penas que, em parte, Santo Inácio de Loyola vem a perdoar. Preceptor do Rei D. João III, assim como Damião de Góis, uma outra das questões de que é objecto, em condenação pública, prende-se com o facto de ter testemunhado contra este seu amigo, quando Damião de Góis foi julgado pelo Tribunal da Inquisição. Dizem as cópias do respectivo processo que o Padre Simão, em vez de o defender, ainda o ajudou, com seus argumentos, a condenar. Sendo este um peso que nunca mais deixou de carregar, para a História ficaram os seus muitos feitos notáveis, mas também esta nódoa negra. Importa que se diga que os pratos da sua balança de vida pendem muito mais para o lado das boas obras que para o das fraquezas que teve. Por tudo, Vouzela tem razões para se orgulhar deste seu Filho, que está sepultado na Igreja de S. Roque, em Lisboa, porque se instalou na Casa Professa da Companhia, em 1574, por alturas do seu retorno à pátria-mãe. Quanto à Companhia que ajudou a fundar, o seu papel é sobejamente conhecido até aos tempos em que o Marquês de Pombal a condenou e nos anos, mais tarde, em que voltou a ressurgir. Nos campos da evangelização, da ciência e da educação foi um grande expoente, ainda que com muitos erros pelo meio. O Padre Simão Rodrigues de Azevedo deixou nela páginas douradas e são essas que não podemos deixar de relevar. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Jan 2021

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