segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

As Casas do Povo nos anos 50 e 60: Pinheiro de Lafões

Casas do Povo e acção social Pinheiro de Lafões na linha da frente Nos primeiros dias do ano de 1958, em Pinheiro de Lafões dava-se um passo de gigante nos caminhos da acção social, saúde, cultura, recreio e desporto, ao entrar em funções a sua Casa do Povo, ainda que em instalações provisórias, na Casa Social Católica. Aos comandos desta instituição estava (e assim continuou por muito tempo) o notável empreendedor Celestino Ferreira Martins, apoiado pelo Padre Alberto Poças de Figueiredo e António Pinheiro de Almeida. No dia 1 de Janeiro desse mesmo ano, este jornal “Notícias de Vouzela” dava nota desse acontecimento, destacando o facto de, partir de tal momento, se poder contar com assistência médica, subsídios diversos e uma série de actividades colaterais nas áreas da cultura, desporto e artes. Num universo de 350 sócios efectivos logo à partida, abrangiam-se cerca de 1000 pessoas, com um orçamento anual de 28588$00, a permitir, entre outros pontos, apoiar 16 sócios inválidos com 50$00 por cada um, distribuir 6200$00 em medicamentos e 6700$00 noutro tipo de subsídios. Tanto mais é de relevar-se este novo equipamento quanto, por essa altura, a segurança social era uma espécie de miragem e algo de absolutamente extraordinário. Avulta, por isso, aqui a figura de Celestino Ferreira Martins, que, ao leme de uma intensa vida empresarial, tinha tempo, vontade e arrojo em aventurar-se por estas andanças, vindo a ser, de 1972 a 1974, Presidente da Federação das Casas do Povo no distrito de Viseu. Homem de larga visão estratégica, fez avançar na sua terra uma série de firmas, como a Abastecedora de Mercearias Central do Vouga, a loja comercial, o café e as bombas ( com a atracção especial de um macaco que ali viveu durante uns anos), a moagem, as oficinas, o abastecimento de sal com base nas salinas de Aveiro, entre outras variadíssimas iniciativas. Não se ficou por estes interesses próprios a sua esfera de acção. A par de encarar a sério a gestão empresarial plural, diversificada e multifacetada, lançou, como vimos, uma vasta e meritória acção social, com destaque para a citada Casa do Povo, sendo pioneira por estas bandas. De notar que as que apareceram depois neste concelho de Oliveira de Frades vieram muito mais tarde, nomeadamente as de Arcozelo das Maias, Ribeiradio, Arca e Oliveira de Frades, estas duas apenas desde o ano de 1973. Um outro ponto alto da sua vida associativa teve a ver com a inauguração, em 1965, da nova sede e do Bairro das Moradias, outra inovação para a época. A presidir a este acto esteve o Presidente da República, Almirante Américo Tomás, no dia 27 de Abril, como relatou o então Correspondente deste NV, Fernando Dias. Recebido oficialmente nos Paços do Concelho pelo Presidente da Câmara Municipal, Dr. António Lopes Ferreira, e pela Banda de Música dos Bombeiros locais, chegou a Pinheiro de Lafões, onde antes tinha havido um jogo de futebol entre a equipa local e uma de Molelos, numa partida arbitrada pelo Dr. José Figueirinhas, que teve um empate a duas bolas como resultado final. As cerimónias oficiais iniciaram-se por volta das 19 horas, contando-se ainda com a presença do Ministro das Corporações e várias outras entidades oficais, assim como a Banda Marcial Ribeiradiense e a sua congénere já citada e ainda os Ranchos Folclóricos da terra em festa e o da Casa do Povo de Castelo de Paiva. Anos mais tarde, esta instituição social estendeu a sua influência às freguesias de Reigoso e Destriz, abrangendo assim esta parte ocidental do concelho de Oliveira de Frades, a fazer fronteira com Águeda e Sever do Vouga, já no distrito de Aveiro, facto que se veio a prolongar pelos anos fora. Num percurso intenso, Celestino Ferreira Martins foi ainda um dos fundadores do GDOF em 1945, presidindo ao respectivo Conselho Fiscal. Dinamizador nato, o seu nome está perpetuado no Parque Desportivo de Pinheiro de Lafões e na toponímia da sede do concelho, para que a sua memória se não esqueça. Em 2016, foi homenageado, no dia do Feriado Municipal, 7 de Outubro, a título póstumo. Com um passado em que esta freguesia pontificou nos domínios da cultura e do desporto, estão na nossa memória os jogos de futebol, as sessões de cinema, os espectáculos de teatro e outros, na altura algo de altamente importante nesta nossa região. Fruto em grande dose dessa sua meritória acção, a freguesia de Pinheiro de Lafões foi, assim, durante anos, um dos pólos mais dinâmicos a nível cultural, social, desportivo e recreativo do seu município, distando da sede poucos quilómetros. Chegou mesmo a ter energia eléctrica muito antes da povoação de Travanca, que pertencia à sede concelhia, e que constituía uma espécie de sombra negra entre a vila e Pinheiro, triste situação que manteve até aos anos setenta. Criando emprego, dando vida à sua comunidade, Celestino Ferreira Martins bem merece que se continue a recordar como bom exemplo de criatividade e cidadania, usando da sua influência para valorizar a sua terra e região. Erros e falhas também os teve. Mas a balança pende, a nosso ver e sem grandes dúvidas, para o lado mais positivo da sua vida, que deixou obra, feitos e um bom exemplo para quem veio a seguir. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Dez 2020

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