quinta-feira, 1 de abril de 2021

Lafões deve ter a sua voz

Lafões com uma força muito própria Em conjunto e cooperação transversal, pode ir-se mais longe Há um ponto geográfico desta nossa região de Lafões que mostra toda a sua grandeza e razão de ser da sua identidade: na estrada que liga S. Macário à Coelheira/Candal, ali no cimo, no cruzamento que corta para Carvalhais, é só parar e deixar fugir os olhos que este vasto e único território surge em todo o seu esplendor. Parece um enorme lago, em que o azul da água deu lugar ao verde colorido das suas paisagens, de leste para oeste e de norte para sul e vice-versa. Pelo meio, corre a linha unificadora que é o Rio Vouga, a cortar esta área de uma ponta a outra. Razão teve o nosso conterrâneo Amorim Girão, professor catedrático da Universidade de Coimbra, geógrafo de renome mundial e estudioso destas nossas terras, quando escreveu que”... Em pleno coração da Beira Alta, uma unidade bem característica, toda ela incluída na Bacia do Vouga, nos aparece agora: é a sub-região de Lafões, constituida pelos concelhos de S. Pedro do Sul, Vouzela e Oliveira de Frades e ainda por algumas freguesias dos concelhos de Castro Daire... de Viseu (dizendo nós, também de Sever do Vouga)... Sub-região bem conhecida pelos seus vinhos verdes, muito semelhantes mas sem dúvida superiores aos do Minho, é uma continuação do que designámos pelo nome de Beira minhota... “ (Esboço de uma carta regional de Portugal, 2ª edição, Coimbra, 1933, in “Oliveira de Frades, 1991”). Se assim o disse, do alto da sua sabedoria, nem nos atrevemos a questionar uma vírgula, mantendo-se integral o seu pensamento, até porque fala de um espaço territorial na sua paisagem e este é, por definição, praticamente imortal, ainda que com cambiantes ao longo das épocas e dos anos. Por assim ser, tem Lafões uma carga e uma força muito específicas, que só vistas e analisadas globalmente podem dar todo o seu fruto. Cada franja que se use em si mesma, retirada do seu contexto e da sua abrangência, é certo e sabido que não vai surtir o efeito desejado, por falta de escala e por se apartar do todo que a constitui. Decorre deste simples e linear raciocínio que convém agir-se em conjunto para melhor se saborearem e usufruirem as riquezas com que a natureza nos dotou. O mesmo se pode e deve dizer dos investimentos a fazer, que têm de obedecer a esta regra da sua integração no todo que se pretende e deseja valorizar. Nada de colisões com as autarquias Sem colidirmos com as especificidades municipais e de freguesias, que se regem pelo estatuto da autonomia do poder local, esse bem maior da nossa democracia, nada se perde, bem pelo contrário, em colaborar-se na busca das melhores soluções que sejam benéficas para os três concelhos, porque nenhum deles é uma ilha, bem pelo contrário. Quase nos atrevemos a dizer que precisamos de um plano e de uma voz à escala desta nossa sub-região, que dê respostas concretas e eficazes às nossas necessidades e anseios. Numa altura em que se avança com uma crescente globalidade, esta é a hora de afirmarmos a identidade de que somos feitos, sendo que esta é “... a fonte de significado e experiência de um povo” (Castels, 2007). Com a marca que nos une e nos define, partamos então para a aplicação daquilo de que necessitamos como um todo. Curiosamente, já em 1990 (NV, 1/11/90), afirmávamos nas páginas deste periódico: “Lancemos a criação de um Forum Lafonense, espaço de debate permanente em que tenham assento cidadãos e entidades, associações e autarquias, técnicos e interessados diversos... “, pensando, então, numa espécie de coisa e causa comuns que implicam uma tomada de decisões em união de esforços e vontades. Ao olharmos mais para cima, raramente descobrimos a realidade Lafões a afirmar-se como ela própria. Anda quase sempre de mão dada com outras áreas e, de certa forma, diluída na montanha em que se integra, como é o caso das “mesas” Dão-Lafões e, até, por esta ordem, o que diz tudo. Precisamos, por isso, de uma voz, a nossa voz. Com esta, seremos mais fortes e faremos também mais entroncados os espaços em que nos integremos. Devemos, assim, ter a nossa estratégia e com esta irmos mais longe e mais alto. Para todos ganharmos, este é o caminho. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Abr 2021

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