quinta-feira, 15 de abril de 2021

Para ir em frente, em Lafões tenta remar-se contra a maré das más políticas públicas...

Contributos para Lafões andar em frente Matéria-prima há em quantidade, importa é fazê-la render O diagnóstico acerca das potencialidades da nossa região de Lafões vem sendo feito ao longo dos tempos. A natureza e a geografia deram-nos tudo quanto precisamos para fazermos um bom caminho. Colocados com um pé na serra e outro na água da Oceano Atlântico, com as cidades de Aveiro e Viseu a curtas distâncias, com os grandes centros não muito longe e acessíveis com alguma facilidade, com vias de comunicação que podemos considerar bastante boas ( bastando olhar para os A25 e A24), a esse respeito não nos podemos, nem devemos queixar por aí além. Falta-nos, é certo, um comboio à século XXI, mas essa é uma falha que percorre, transversalmente, o nosso país, por falta, ao longo das últimas décadas, de visão estratégica e capacidade de pensar o nosso desenvolvimento global com vistas largas, airosas e sustentáveis. Sendo este um erro de palmatória, agora há que repôr as linhas em funções, desde que com a devida bitola e corredores capazes de velocidades modernas e apetecíveis. Em paisagens, é o que se sabe. Temos maravilhas por todos os lados. Temos vindo a falhar é num ponto essencial: ter gente em cada recanto para estes não perderem o seu brilho e a sua vivacidade. Este é que é o grande problema, este é que é o difícil nó que não temos sabido desatar convenientemente, nem em tempo aceitável. Quem por aqui anda hoje não é o principal culpado, longe disso. Quem nos tem governado pelos séculos fora é que nunca soube olhar-nos como devia. Neste caso, a culpa não morre solteira. É dos governantes, todos, sem tirar nem pôr. Num trabalho de fôlego que temos vindo a fazer, em investigação académica (sempre adiado e ainda não concluído!), assacamos essas responsabilidades à falta de políticas públicas adequadas e cirúrgicas que impeçam o despovoamento territorial. Isentamos dessa lamentável falha todos quantos por aqui vivem, resistindo a todas as tempestades legislativas e aos desvios dos fundos e das atenções para as zonas das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, para o litoral e para as diversas partes deste nosso globo em todos os seus continentes. Começamos logo por dizer que “ O despovoamento do Interior, em zonas de baixa densidade, é um fenómeno que ultrapassa a escala local e regional, para se estender ao país em que vivemos, à própria Europa e ao mundo em si...No que se refere a Lafões, há todo um historial que conduz, até por imitação, ou desejo de encontrar a realização de sonhos que noutros se vêem como tendo sido uma realidade, a essas saídas... Se houve muitas geografias a aparecerem como ponto de destino... a partir dos anos sessenta a Europa tem sido daquelas que mais se notam... “. Historiando, depois, as desigualdades existentes, as lamentáveis condições de vida, aí até aos anos setenta e oitenta, em muitas localidades sem vias de comunicação, sem energia eléctrica e outros equipamentos e meios, acrescentando que o ensino, após a antiga quarta classe, só por aqui apareceu em finais dos anos cinquenta, princípios de sesenta e apenas em colégios particulares, fácil é concluir-se que, faltando tudo, só restou aos nossos antepassados o caminho do êxodo rural, fatal para a morte de muitas das nossas aldeias e povoados. Para agravar este quadro de angústia e agonia permanentes, temos de confessar que os tempos modernos também não têm ido nada de feição positiva para o nosso desenvolvimento. Além de não se ter travado a marcha destruidora das migrações internas e externas, levaram-nos muitos dos poucos serviços que ainda por aqui se iam vendo. Fecharam-se escolas, esvaziaram-se as estruturas de saúde, minou-se o edifício da justiça, atrasou-se a vinda da banda larga em internet, teima-se em levar para a beira mar tudo quanto possa criar alto emprego e, assim sendo, quem agora nos vem (des)governando também não pode ser ilibado do “crime” que contra o Interior se tem vindo a cometer. Aqui se rema contra a maré Com um poder local novo e senhor, em parte, dos destinos das nossas comunidades, seríamos injustos se não disséssemos que, se não fosse a sua dedicação, empenho e capacidade de tentar ir mais acima e mais além, isto estaria muito pior. Acontece, porém, que muitas vezes estas nossas vozes esbarram numa parede centralizadora, demasiado concentrada no Terreiro do Paço e noutros “terreiritos” que se vão interpondo pelo meio, pelo que a sua acção nem sempre dá os frutos que esse notável esforço merecia e era justo que fosse devidamente compensado. Estando gratos por esse contributo das nossas autarquias, entendemos, no entanto, que são um espécie de Dom Quixote a batalhar contra moinhos de vento. Por esse facto, a sua luta não é coroada com o desfecho de que precisamos tanto ou mais do que de pão para a boca. Ideias e projetos não faltam, nem no citado poder local, nem na dita sociedade civil. Só que tudo quanto se pense fazer bate logo na impossibilidade de se concretizar, porque os entraves são de toda a ordem e de todo o tamanho. Quando, por exemplo, se olha para um Modelo Estratégico de Desenvolvimento do concelho de Vouzela (2012) que fala em políticas de satisfação das carências básicas, de acessibilidades e mobilidade, de medidas de ordem ambiental e de recursos naturais, de bom uso dos solos e de um correcto ordenamento, estamos perante grandes aspirações. No entanto, ainda hoje, em 2021, em quadros agravados pelos trágicos e fatídicos incêndios de 2017 e pelas destruidoras tempestades de 2019, se vários aspectos destes foram contemplados, muitos outros nem por isso. Sem receitas mágicas, a população continua a diminuir drasticamente, as povoações avançam na direcção errada e perigosa da desertificação, mesmo havendo muito mais indústria em Oliveira de Frades e em Vouzela, crescendo também em S. Pedro do Sul, como se nota em Pindelo dos Milagres, mas nem esses aspectos fazem o milagre de vermos crescer o número das pessoas que aqui habitam. Tendo começado agora o Censos 2021, os resultados expectáveis podem mostrar-nos um desastre ainda bem maior do que aquilo a que temos já vindo a assistir: a morte de nossas terras, com muita pena nossa... (Continua) Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Abr 2021

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