quinta-feira, 15 de abril de 2021

O Porto de Aveiro, o passado e o futuro e os impactos em Lafões...

Porto de Aveiro e de todos nós 213 anos de vida ao serviço da comunidade Pode parecer estranho que apanhemos o Porto de Aveiro para dele falarmos nestas nossas páginas do Notícias de Vouzela e na sua rubrica “Lafões”. Mas não o é, de certeza. Primeiro, é sabido que tem como vocação servir a zona centro e até norte do país e a Espanha; segundo, das vias estruturantes que o servem, uma delas é a nossa A25 e foram, em tempos, a EN 16 e a linha do caminho de ferro do Vale do Vouga. Finalmente, com o ar marítimo a ser uma nossa grande companhia, aquela cidade está-nos assim na corrente sanguínea e no nosso próprio ADN. Por tudo isto, encaixa aqui que nem uma luva. Acrescem a estas razões, uma outra: é o nosso porto de mar, sem sombra de dúvidas. Com uma história muito ligada à abertura da barra, por canal artificial, a 3 de Abril de 1808, quanto à localização dessa época e da actualidade, assinalam-se os seus 213 anos de existência, enquanto importante infraestrutura de transportes marítimos. Situado em plena Ria de Aveiro, onde desagua o Rio Vouga, o seu nascimento no espaço em questão demorou séculos até ali ser construído. Antes, andou de um lado para outro, de norte para sul e de sul para norte. Acontece que o problema das águas praticamente estagnadas da Ria nunca deixou de preocupar as populações da cidade e desta zona do litoral, sobretudo quando mais apertavam as várias doenças mortais, como as do paludismo que por aqui, e por esse motivo, se viveram ao longo dos tempos, desde há milénios. Na tabela dos portos nacionais, em Janeiro de 2020 chegou a estar em quarto lugar com a movimentação de 477 mil toneladas de mercadorias diversas, mas a sua posição altamente importante nesse panorama nunca deixa de ser relevada. Aliás, espalhando-se pelos terminais norte, com um cais de 900 metros, um outro de 250 metros, o de roll ou roll off, 450 m, o de granéis líquidos, com três pontes cais, e o de sólidos, 750 m, mais o do sul, 400 m e ainda os do pescado e do porto de abrigo, dão bem a ideia da sua grandeza e amplitude. Há um ano, avançou-se para a 2ª Zona de Actividades Logísticas e Industriais, num investimento então previsto de 20,8 milhões de euros, estando, acualmente, em estudo a recepção a maiores navios, o que vai aumentar as suas funções e hipóteses de alargar as suas respostas a embarcações ainda de maior envergadura. Com uma ligação ferroviária directa à Linha do Norte desde o ano de 2010, tem, por esse facto, mais valias acrescidas em termos de acessibilidades. Se nos lembramos de, por essa altura, termos criticado o facto de não ter sido lançada uma via dupla, tal investimento não deixou, mesmo assim, de fazer todo o sentido. Até aqui se chegar, houve um longo caminho a percorrer e é desse, em doses muito pequenas e gerais, que agora aqui vamos expôr. A história deste empreendimento A ligação portugesa ao Oceano Atlântico é uma marca indelével da nossa identidade, Terra e mar são partes da vida de todos nós. Aliás, Lafões, com a sua “estrada do peixe” e com as rotas dos almocreves, é disso um bom testemunho. Mas então, onde atracavam os navios na região de Aveiro? Com as forças da natureza e com algumas obras de engenharia, muitas vezes rudimentares, as barras sucediam-se em locais diversos, ora mais a norte, ora mais a sul, como dissemos. Numa Ria de Aveiro, com cerca de 45 km de comprimento, com 6000 hectares de águas permanentes e 3000 ha em espaços umas vezes cobertos, outras em terrenos secos, sabe-se que, em princípios do século XVII, a foz da Ria estava a norte da zona actual. Entretanto, com o andar dos tempos, no ano de 1643, dá-se nota da existência da barra na Vagueira, o que se repetiu por outras épocas, sendo que, em 1685, se situava mais a sul, na Quinta do Inglês. Anos mais mais tarde, em 1756, D. José I criou a Superintendência da Barra e um imposto de um real para resolver esta questão, encarregando o Eng, Carlos Mardel de lhe dar seguimento. Com cheias e outros contratempos, tal não veio a ser possível. Abre-se, então e uma vez mais na Vagueira, um regueirão, por onde as águas voltaram a escoar-se para o mar. Correram os tempos e em 1769 referia-se que era necessário melhorar a barra, por ser útil à Comarca de Aveiro, à de Viseu e outras da Beira. Acontece que, em inícios dos anos 1800, entraram em cena os Eng. Reinaldo Oudinot e Luís Gomes de Carvalho que partem para um grande estudo que conduziu ao actual local, o da Barra de Aveiro, com as obras a começarem em 1802 e a darem-se por concluídas em 3 de Abril de 1808. Nascia assim o Porto de Aveiro. Em 1974, depois de muitas obras de reparações e beneficiação do canal que se foram sucedendo, elabora-se o Plano Director de Desenvolvimento e Valorização do Porto e Ria de Aveiro, em 1998, passa-se da JAPA para a APA, em 2005 projecta-se um novo Plano Estratégico e hoje aí estamos perante as infraestruturas de que temos vindo a falar, com base em fontes várias, incluindo o precioso contributo do Arquivo Distrital de Aveiro. Ao trazermos aqui este tema, move-nos ainda uma ambição regional: fazer que, com ele e com tudo o que o envolve, possamos lutar para virmos a ter uma competente ligação ferroviária a ligar a Salamanca, passando por Lafões e por Viseu, num tempo em que a ferrovia – e ainda bem – parece voltar a estar na ordem do dia de onde nunca deveria ter saído. Está na hora de aproveitarmos esta boa maré... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Abr 2021

Sem comentários: