sábado, 10 de abril de 2021

Uma semana negra: das mortes ao rombo na justiça

Esta semana de Abril, agora mesmo de águas mil, não me correu nada bem. Perdido o Amigo Almeida Henriques, presidente da CM de Viseu, que a morte por Covid 19 arrancou à vida, logo nos primeiros dias, veio depois o desaparecimento de Jorge Coelho, também ele um ilustre cidadão do meu distrito de Viseu, a fechar esta semana horrível. Há pouco, vi que estava a caminho da sepultura na sua terra natal, Mangualde. Que descansem em paz e um profundo e sentido voto de pesar às famílias enlutadas, com os meus reconhecidos agradecimentos por tudo quanto por nós fizeram. Estes eram já sinais suficientes para que estes dias, por estes maus e tristes motivos, jamais pudessem vir a ser esquecidos. Entretanto, do lado da (in)justiça apareceram outros sinais que não auguram nem significam nada de bom para a saúde social do país. Sem questionar questões de pormenor e de direito, no sentido técnico do termo, a leitura das decisões do Juiz Ivo Rosa, ontem lidas por mais de três longas horas, puseram-me a pensar se temos um sistema judicial que responda aos nossos anseios e necessidades. Penso que não. Após sete anos de diligências, de prisões preventivas, de passadas sem fim pelos corredores dos tribunais, umas atrás das outras, sempre a queimar tempo e etapas, ontem o que vimos foram as prescrições, as críticas contundentes e ferozes às investigações do Ministério Público e a queda com estrondo dos aludidos crimes mais impactantes e mais condenáveis, como as das diversas corrupções. Ficaram no ar para seguirem para julgamento apenas umas migalhas de um complexo processo que, talvez por esse facto de ser tão grande e tão complicado, levou a que se ficasse com um sentimento de que a justiça não actuou como devia. Nada tenho contra as pessoas acusadas. Mas as sombras que pairavam no ar eram demasiado negras para se converterem em raios de sol para quase todos os implicados. Se condeno com todas as letras e veemência o espectáculo mediático da prisão de José Sócrates há uns anos, se condeno também a quebra de segredo de justiça que se foi verificando ao longo dos tempos, o que ontem foi "apurado" ( nada em definitivo, porque se avizinha um longo cortejo de contestações e recursos para mais uns anos) não dá bons créditos ao sistema judicial que temos. O que foi dito em Tribunal é mau demais para acreditarmos piamente na (in)justiça que temos. Também as manifestas e alargadas manifestações de regozijo vindas a público por parte de um dos arquidos, JS, não me deixaram com vontade de bater palmas. E penso que a pessoa em causa, se pensasse bem no que ali acontecera, com muitas suspeitas a caírem por supostas prescrições e a "condenação" ou ida a julgamento por seis crimes, não teria razões para tanta festa. O povo português não sentiu que o momento fosse para foguetes. Talvez muito mais para lágrimas. A justiça viveu ontem um momento negro. Importa que deste episódio se retirem as devidas lições, porque aquilo a que assistimos não foi um hino à justiça que desejamos. Foi, antes disso, uma tábua no caixão de um sistema que não nos serve. Raramente tenho pensado que confio cegamente na nossa justiça. Quase nunca tive esse sentimento. Mas agora, desde ontem, as desconfianças e as incertezas cresceram e avolumaram-se. Antes que tudo isto caia no charco, que se REPENSE todo este sistema e se actue em conformidade. Com muitas culpas a morrerem solteiras, qualquer dia não sabemos, infelizmente, onde iremos parar. É tempo de não dar razões aos extremismos. Mas por aquilo que ontem se viu nem toda a gente assim pensa ou age. E isto pode tornar-se dramático. Quero acreditar na justiça. Ajudem-me a que isso aconteça, por favor...

Sem comentários: