quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Centro Colombo com cheiro a Império

Chega-se ali à zona do melhor clube do mundo - o SLBenfica - e logo se destaca uma grande área de negócios, lazer, passeio e passatempo, no inverno para aquecer, no verão para saborear um ar fresco, que se conhece pela designação de Centro Comercial Colombo, uma espécie de catedral do consumo junto a outra, a do futebol.
Sai-se do Metro, que lhe entra pelas entranhas dentro, para de imediato se confirmar o que o própria designação inicial indica: um forte cheiro a Império, uma braçada lançada na aventura marítima portuguesa, que a Praça Trópico de Câncer acaba por consagrar. As evocações de saudade e de marcas da expansão surgem um pouco por todo o lado. Assim acontece com a Porta da Índia, com a Porta do Oriente, com a Rua de Guadalupe. E como mais mundo houve em outros pontos se atracou, que ali se registam e que aqui se omitem por "falta" de espaço.
Antes de avançarmos por esse Império dentro, quedámo-nos um pouco na citada Praça, que resplandece de grandeza, que se enriquece com uma magistral música de fundo, que se assemelha a uma enorme abóbada, quase celestial, que parece querer reflectir nela um certo ar palmar, que nos presenteia com uma espécie de série cinematográfica, em dia de "óscares".
Ali tudo aparece em tamanho gigante. Até o movimento de gente que, apressada, ciranda por todo o lado: uns carregam sacos de sonhos, outros os sonhos que deixaram, que a crise não perdoa. Uns mostram que têm carteira recheada, apesar de tudo, outros dela dão sinal de fraqueza angustiada. Gente vai, gente vem, gente sobe, gente desce, gente cruza-se com gente, quase sempre em diálogo de surdos. Cada um fala consigo mesmo e poucos dialogam com quem quer que seja.
No Centro Comercial Colombo, como em todos os demais, nota-se um ser que não é bem o ser português, que não fala com quase ninguém, que negoceia em silêncio, que paga e não regateia, que não conhece quem está do outro lado do balcão, pondo-lhe o dinheiro nas mãos sem uma palavra, sem um gesto de humanidade activa, sem aquela postura, bem nossa, de ter sempre a língua pronta para um " bom dia ", um " olá, venha por bem e que Deus o ajude", um " como está, freguês ", um " bem haja e até logo ". É isso que ali me faz falta. Mas que mostra um Portugal moderno, um País à altura desses homens de quinhentos que serviram de mote a este Colombo, a esta nova vida, que importa também saber contrariar, de modo a fazer conviver aquele comércio tradicional e estas casas imensas, sinais dos tempos que os tempos não devem poder apagar.

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