quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Em branco

Nesta mesa de trabalho, tenho uma folha em branco. Sei que quero escrever qualquer coisa, mas pouco me sai que tenha jeito e que valha a pena. Olho para o lado e só vejo crise, crise, crise, tricas e mais tricas, políticos aos berros e assanhados na Assembleia da República, partidos em busca de tudo e de nada, desemprego por todo o lado, nada de novas empresas, grande escassez de arrojo, gente que não cala a sua tristeza e desânimo, candidatos a candidatos, hoje és tu, amanhã talvez seja eu e no meio desta salgalhada, que causa tensão elevada e perigoso colesterol, só me apetece agarrar em José Saramago, que nunca li em profundidade, e tentar ser capaz de o entender, de o ouvir, ou então Eça de Queirós, que me parece sempre actual.
Desta minha varanda, que à serra chega sempre com um simples olhar, procuro um outro mundo e só me sai este que anda apodrecido, que vê as bolsas vazias, o petróleo a descer na origem e a subir nas bombas, o senado e a câmara dos representantes na América a darem razão a Obama, que perde, entretanto, em Israel a oportunidade, talvez, de encontrar uma nesga para a paz, os soldados em Mirandela a pensar no Kosovo, o meu país a ver que as janelas se fecham e que as novas oportunidades, amanhã, devem ser um outro qualquer engano, a educação sem professores ou em guerra aberta com a tutela e uma sociedade civil que tem um longo caminho a percorrer para conseguir a sua emancipação.
Razão têm as minhas filhas que se enriquecem com Saramago e outros vultos da nossa cultura, ou que lêem nas artes aquilo que eu não enxergo, mesmo com os olhos bem abertos, ficando assim sem compreender as profundezas do escritor que vive em Lanzarote, descontente com a azinhaga grande onde nasceu, ou as subtilezas de um Picasso que, em duas pinceladas, diz tudo aquilo que lhe vai na alma e eu, às vezes, não sou capaz de expressar o que me vai cá dentro, porque este mundo em que vivo anda às avessas e eu não quero que assim aconteça, mas não sou capaz de o mudar.
Calo-me, por hoje, com este desabafo, à espera que haja melhores dias.
Acredito piamente que eles não deixarão de bater às nossas portas. Venham!

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