terça-feira, 14 de abril de 2009

Balanço da Primavera em dia de Inverno

O Banco de Portugal falhou na escolha do dia para apresentar o Relatório da Primavera. Com a chuva que cai e o frio que se faz sentir, estava mesmo a ver-se que dali não sairia qualquer coisa de sossego. Assim foi: uma desaceleração de mais de três por cento ao ano, uma forte quebra na expectativa de crescimento, um certo ar de deflação, uma visão de desemprego que ronda os limites do equilíbrio, uma esperança adormecida, para não dizer em coma, um mundo que teima em não encontrar meios e formas de sair da crise, um país carregado de dores de um parto que nunca mais faz aparecer o bebé do nosso contentamento, uma terra que, disseram, só se salva se a outra parte da Europa der sinais de ser capaz de saltar do abismo em que se encontra, eis um quadro que nada nos agrada.
Valha-nos esta consolação: o PSD, do saco das hipóteses, tirou aquela que, sendo a mais cinzenta, traz o selo MFL, descartando todas as pressões, mesmo a de S. Marcelo que tanto acenou com o Dr. Marques Mendes. Recaindo a opção no Dr. Paulo Rangel, aí temos uma cópia do CDS, que também descapotou a Assembleia da República para descalçar a bota da Europa. De uma rajada, a direita não foi capaz de sair dos baralhos com que sempre tem jogado, o que pode ser uma virtude - a da continuidade e a da persistência - mas também uma desvantagem - a da inacapacidade de se abrir à sociedade.
Salvo uma ou outra excepção, os partidos, todos eles, parecem olhar para o Parlamento Europeu como um expediente a resolver e não como a escolha dos nossos representantes para o mais alto órgão da nossa UE. Tenho de dizer que isso é um erro de todo o tamanho e uma visão mesquinha, quando a realidade imporia outro raciocínio e outro rasgo: apresentar trunfos em vez de manilhas, reis ou até uma espécie de duques... como se isto seja um acto de menor importância.
Sendo este o último dos dados em presença, arrancado a ferros, quase a cesariana, agora é altura de se ver quem, tendo dedos - ainda que tortos - melhor toca guitarra. Sem qualquer Carlos Paredes em palco, com uma plateia entristecida com as notícias vindas do Banco de Portugal, com uma Europa ainda não totalmente segura de si, não é animadora a peça que nos vão oferecer. Mas venha ela, que é preciso dar voz ao povo e as eleições servem para isso mesmo.

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