quinta-feira, 23 de abril de 2009

Dia Mundial do Livro

Hoje é um dia especial, porque nele se assinala um dos pilares básicos da cultura de um povo, convertendo-se em poderosa alavanca de um desenvolvimento integrado e sustentado: o livro, essa fonte de conhecimento, de pensamento, de reflexão, de acção consciente e construtiva, de prazer, de enriquecimento individual e colectivo.
Antes deste computador, que suporta a minha escrita e me fornece muitas leituras, me traz novidades, notícias e muito do que se passa e se viveu por todo o mundo, era na lousinha, no caderno e nas folhas que imprimia as minhas letras e dava forma aos textos e ideias, assim como era apenas no livro que bebia grande parte daquilo que aprendi e sou. Por tudo isto, transporto comigo a mais bela de todas as cargas: a dos livros, que me enfeitiçam, me entram pelos olhos dentro, me convidam a, com eles, confeccionar o mais nutritivo dos alimentos, me consomem alguns, muitos, euros, me enchem a casa, me atafulham os armários, me fazem andar sempre numa fona à procura de espaço para os colocar, os olhar e, depois, os arrancar desses pedestais e, novamente com eles, partir para longas caminhadas...
Sem eles, talvez o meu mundo não fosse aquilo que é. Talvez, não. De certeza, evidentemente.
Hoje, quando um dia lhe é consagrado, teço-lhe um hino de agradecimento, dizendo que nem o citado computador, que muito aprecio, deles me faz separar.
Mas tudo isto é assim, porque as minhas professoras da velhinha e inesquecível primária, aquela que ensinava e transmitia valores, me estimularam a consumi-los, com voracidade, com interesse, com força, com alegria. A elas devo esse enorme favor, que, em minha casa, o livro só entrava por essa porta - a da escola, antes e depois das aulas, sobretudo depois de horas e horas de sala de aprendizagem, de muito estudo, de viagens sem fim pelos comboios virtuais, pelos rios que não eram melhores que o meu, o do Eirô, mas que tinham honras de cátedra, eles e os seus afluentes, de passeio pela história de Portugal, do Minho a Timor, pela geografia, pelos ossos e demais partes do corpo humano, pelas plantas, com tronco, espique, colmo, caule, folhas, flores e frutos, pelas rochas, pelos ditados, redacções, palavras difíceis e tantas coisas mais. Agradeço a meus pais, que sempre me mostraram que o saber não ocupa lugar. Integro aqui todos os meus professores, que fui encontrando pela vida fora.
Mas uma palavra especial é devida ao falecido benemérito, Comendador Manuel Fernandes Gomes, que ao concelho de Oliveira de Frades (entre outros), a todas as suas escolas, ofereceu, quando esses gestos eram raros, bibliotecas, em armários próprios, que, a partir das décadas de cinquenta e sessenta do século passado, fizeram, então, as minhas delícias. Sei que hoje, dia 23 de Abril de 2009, ainda por aí andam. Essa longevidade é o maior dos elogios que se podem fazer a essa dádiva tão especial, mas, sem a visão altruísta e visionária, do Comendador Manuel Fernandes Gomes, nada disso teria sido possível. Bem haja, esteja onde estiver. A minha gratidão eterna aqui fica.
O mesmo quero registar, quanto à Fundação Calouste Gulbenkian e às suas carrinhas ambulantes. Obrigado, também.
Porque hoje é Dia do Livro, há hinos que não podem ser esquecidos e o do reconhecimento está nessa primeira linha, como é óbvio.

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