quarta-feira, 6 de abril de 2016

O nosso mundo em livro pela pena de António Bica

António Bica canta a nossa ruralidade em novo livro Em “ Os dias e as sombras” faz-se uma agradável viagem pelas nossas memórias, costumes e tradições que o tempo vem querendo apagar, mas que há sempre quem, dotado de saber e de afectividade por estas vivências populares, a que junta uma sensibilidade muito especial, as faz vir ao de cima e as coloca ao nosso dispor: é assim com António Bica, advogado em Lisboa, saído, como confessa com visível gosto e entusiasmo de uma aldeia, Paços de Vilharigues, que tanto transporta em seu coração e lhe serviu para a escrita de mais um livro, este que aqui se assinala. Partindo dessas origens, os contos aí estão para nos fazerem reviver esses seus tempos de outrora. Para dar a conhecer esta sua obra, em segunda edição retocada, “ Os dias e as sombras”, com a chancela da Modocromia, escolheu um lugar já com boa carga simbólica, ainda que de curta existência, a Galeria Leituras (In)esperadas, em Vouzela. Aconteceu esta sessão na noite do dia 12, em casa bem à altura do acontecimento que ali se realizava. Se mais lugares houvera, mais gente ali estaria. Em fim de noite muito bem passado, cheio de emoções, de boa música e muitas considerações culturais, pessoais e literárias, o Grupo Ars Nova, de Manhouce, capitaneado por Alexandrino Matos, professor, a quem coube ainda falar do trabalho em causa, explicando o livro, seu significado e importância, trouxe-nos uma actuação de encher a alma e a levar-nos para o mundo da magia musical com quatro requintadas vozes femininas. Quanto à descrição feita em redor destas evocações escritas, para além de ler alguns excertos, Alexandrino Matos pôs em evidência o cidadão interessado nestas causas que é o seu autor. Para falarem da obra, usaram ainda da palavra Rui Ladeira, como Presidente da Câmara Municipal, que bem soube mostrar o seu grande contentamento pelo facto de António Bica ter escolhido esta terra para esta finalidade, quando tanto por ela tem feito desde sempre, na Cooperativa, de que foi destacado dirigente, nos órgãos autárquicos que integrou e nas funções culturais e políticas que tem desempenhado ao longo de sua vida muito e bem preenchida, neste caso, na vertente da defesa das nossas raízes o que é de relevar e aplaudir. Coube a António Moniz de Palme abordar a vida do escritor ali em destaque, ele que o conhece desde os bancos do Liceu em Viseu, por terem sido colegas de turma do 1º ao 7º ano dessa época. Trouxe para a atenta plateia muitos episódios desses e doutros tempos, pondo sempre em evidência o humanismo e o saber do autor de “ Os dias e as sombras”. Como autor do prefácio e da decoração da capa, bem mostrou estar por dentro daquilo que ali disse. Maria Esther, da Editora, disse quanto a alegrava estar ali em cerimônia tão simples e tão emotiva, o que honra o trabalho de pôr na rua mais este trabalho. Na condução da “ordem do dia”, Maria Carmo Bica, ao distinguir as funções ali a desempenhar das suas ligações familiares, por ser sobrinha, não escondeu a emoção que ali sentia e não era para menos. Numa viagem que já fizemos pelo livro, notámos que são diversos os pontos geográficos referidos, com destaque para as nossas terras, mas ainda para a raia fronteiriça, para Coimbra, Viseu, Lisboa, Alentejo, em descrições de fino recorte literário que prendem o leitor do princípio ao fim. Com personagens de ficção, mas a retratarem as nossas gentes, muitos são os temas ali presentes: as traquinices infantis, os trabalhos do campo, as agruras da fome e do pé descalço, o milagre de quem estuda, a fuga para Lisboa para carregar caixotes como marçanos, a vida militar, os costumes, as profissões, a descrição ao pormenor das ceifas, das regas, do linho, das vindimas, dos moinhos, das sementeiras, das ementas, do pão que era sempre pouco, da História nacional e mundial, enfim, um vasto painel de quadros de vida rural que, em termos e conceitos, são um primor de repositório patrimonial que muito valoriza o nosso saber. Por ter ainda conhecido uma das personagens concretas e aqui chamada pelo seu nome, o Padre João Garcia, confesso que muito prazer pessoal me deu esta sua evocação, pondo nos píncaros da lua o bom homem que foi esse humilde e digno sacerdote, ex- colega de Salazar, mas com quem não ia muito à sua missa, como se pode ver numa breve alusão à sua posição pública aquando das eleições presidenciais em que intervieram Américo Tomás e Humberto Delgado, cabendo a este General as preferências de nosso conterrâneo da Ponte – Reigoso. Com este desabafo de ordem pessoal, está de parabéns António Bica e Lafões muito mais enriquecido culturalmente. Carlos Rodrigues, In “ Notícias de Vouzela”, 2016

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