domingo, 13 de novembro de 2016

Pela Serra de S. Macário, S. Pedro do Sul, projectos com pés para andar, artigo publicado no "Notícias de Lafões", 10 Nov16

Sonhos e retornos com pés para andar Falar no fatalismo do despovoamento, sendo uma triste verdade, não ajuda nada a andar para a frente, a não ser como alerta e campainha que façam olhar essa preocupante conclusão em modo de lhe dar a volta. Com um decréscimo populacional de 2232 habitantes, desde 2001 a 2011, com respectivamente, 19083 e 16851 (sendo que o pico máximo conhecido fora em 1950 com 25095 residentes), nota-se que toda esta quebra se dá já em pleno século XXI, quando se pensava que esse flagelo tinha sido uma circunstância dos fluxos migratórios dos anos sessenta e outros, sobretudo para a Grande Lisboa e para a Europa. Assim, ou se procuram sonhos que invertam esses quadros ou este Interior perde-se de vez dentro de algumas décadas, talvez não muitas. Andando em busca de exemplos positivos, que ponham o mundo a sonhar de que é possível ultrapassar estas dificuldades, fomos até a um dos pontos mais famosos deste concelho de S. Pedro do Sul, a Serra de S. Macário, com os seus 1054 metros de altitude, e logo descobrimos, num curto círculo em redor, dois casos que têm tudo para serem apontados como marcas de sucesso e paradigmas de desenvolvimento que vale a pena apreciar, estudar e, sobretudo, replicar noutros sítios, sempre à escala das possibilidades e criatividade de cada um desses outros locais e seus protagonistas de boas caminhadas empresariais. Hoje ficamos pelo Café Salva-Almas, em Macieira do Sul, e pela Aldeia da Pena. À sua maneira, em cada um destes espaços se vêm escrevendo bonitas páginas de empreendedorismo bem sucedido. Comecemos pelo Salva-Almas, uma designação que, só por si, é um compêndio de como criar imagem e boas impressões apenas pelo nome. Isto é, ao saber-se da existência de tal estabelecimento comercial, soa bem a sua marca distintiva, o que faz despontar a vontade de por lá passar em busca de um qualquer encanto que seja mesmo salvífico. Olhando da estrada que, serpenteando, sobe pela Serra acima, logo se nota, nos arredores de Macieira do Sul, junto a um Parque de frondosos castanheiros, uma casa de prestação de serviços ligados à restauração. Parando e desfrutando desse espaço, desfazem-se as dúvidas: é mesmo ali o Salva-Almas. Ainda a mesa não tem nada que nos mitigue a fome e a sede e a alma começa de contentar-se com a arte escultural, com os baixos-relevos, com obras de diversa índole, onde não falta uma pontinha de boa maldade, tudo isto fruto da criação de José de Almeida, fundador e pai de outro Zé, o actual proprietário. Está aberta a ementa para uns momentos e uma refeição bem apetitosa. Da fama da água fresquinha que matava a sede e enchia a alma, veio o nome para esta casa. O resto foi-se fazendo aos poucos até ganhar fama e não ficar a dormir à sua sombra. Pouco depois de se pedir os comes e bebes, lá podem chegar a vitela, o cabrito assado em forno de lenha, a cabidela de galo, o bacalhau também especial e os vinhos a condizer com esses bons pratos. Pelo meio, há sempre uma conversa que muito ajuda a criar bom ambiente. Por experiência própria de há uns tempos, isto mesmo podemos testemunhar. Por leituras diversas, tal se confirma e recomenda. Posto isto, sobe-se mais um pouco esta Serra e vai-se na direcção da Pena. Como este paradisíaco lugar fica lá bem no fundo do monte e a estrada não é nem larga, nem em linha recta, muito pelo contrário, aconselha-se uma condução cautelosa. Se assim se proceder, essa será uma viagem sem qualquer problema e altamente agradável. Quando os pés estiverem colados ao chão desta Aldeia turística, apenas com meia dúzia de habitantes, não se desperdice um segundo sequer que, ali, tudo vale a pena ser visto e absorvido até à medula, pormenor a pormenor. Imperam, na construção das casas, o xisto e a lousa, em terra que ainda é rodeada de uns tantos campos agrícolas com mimos consunidos no local. Por entre estes, se pode vir a contemplar, no Ribeiro que por ali passa, a correr para Covas do Rio, o ponto, em penhascos de meter algum respeito, onde reza a lenda que o morto matou o vivo. Cientes de que ali havia condições para se viver uma vida em contacto com a natureza e em ameno diálogo com o ambiente que os rodeia, o casal Ana Brito e marido, um dia, resolveram fazer daquele seu naco de território, com tanta identidade e valor turístico, o local de eleição para continuarem suas vidas. Assim aconteceu, na verdade. Também António Arouca, ex-residente em Lisboa, tomou a mesma opção e lá se entretém a produzir mel e outras iguarias. Quanto à Ana e marido, criaram o seu comércio, incluindo o ramo da restauração, e lá vendem lembranças, petiscos e umas boas feijoadas, um arroz de cabidela, um cozido à portuguesa, vitela e borrego assados no forno que fazem a delícia de quem quiser saborear tão apetecíveis pitéus, que se completam com o doce de sopa seca e as filhós da Pena. Vendo nesta Aldeia uma rara preciosidade arquitectónica, a Câmara Municipal de S. Pedro do Sul e a Universidade da Beira Interior, Covilhã, através dos Professores Baptista Coelho e Luís Ferreira Gomes, de acordo com o jornal o “Público”, no ano de 2015, estabeleceram um protocolo para com ele se poderem potenciar todas as virtudes, em turismo da natureza, que ali são mais do que muitas, encontrando-se por todo o lado. Estes são alguns dos sonhos que podem dar corda aos sapatos para se alcançar um melhor futuro. Mas há mais por estas bandas, como veremos em próximas ocasiões. Carlos Rodrigues

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