terça-feira, 15 de novembro de 2016

Repescando uma viagem pelos restos da antiga linha de caminho de ferro do Vale do Vouga...

Linha do Vale do Vouga com feridas várias e muitos pontos fortes Num exercício de busca e tira-teimas, um dia saímos de Pinheiro de Lafões e fomos à descoberta do que resta da velha e inesquecível Linha da Caminho de Ferro do Vale do Vouga, no troço que mais nos diz respeito. Dadas umas voltas até S. Pedro do Sul, no sentido oposto, as conclusões gerais são as mesmas: há ali pista a aproveitar e quanto antes, de um lado e doutro. Sabedores de que anda para aí uma boa ideia, a de pegar este tema de frente e de vez, retomando até iniciativas de outros tempos, quisemos ver como estão as modas a esse respeito. Assim, de bloco na mão, fizemos de carro o percurso que vai da citada localidade até à Lomba, em Cedrim. E daqui não passámos, pelas razões que abaixo se verão. - Pinheiro de Lafões: perdida a Estação em favor de dois blocos de Habitação Social, mantém-se de pé. e em quadro de rara beleza, a Ponte, que, associada à Igreja Paroquial, é um verdadeiro postal ilustrado. Mais adiante, também a Ponte dos Melos nos encanta. Num piso aceitável, deparamos com o Apeadeiro de Nespereira, onde há, antes, um pequeno desvio, que muito nos agradou no seu aspecto e cuidado com que tem sido acarinhado. Alguns “metros” além, um bairro novo e um Nicho de Nossa Senhora, salvo-erro, dizem-nos que ali há vida, mesmo sem comboio. Mas quisemos procurar um outro Apeadeiro, o de Santa Cruz, e tivemos dificuldade nessa missão, talvez porque seja uma ruína e nada mais. Em sinal contrário, ganhámos um piso arranjado nalguns quilómetros, em operação que se não revela muito dispendiosa, mas cai bem. Parabéns a quem teve a gentileza de assim proceder. A seguir à Póvoa, lá estava um dos túneis que são uma constante aquém e além e que bem merecem um arranjo artístico, convertendo-o, este e os outros numa espécie de galerias, ou coisa que o valha. Ao entrar-se em Quintela, surge-nos um pouco de estrada alcatroada, devendo retomar-se a Linha, junto a uma casa branca, à direita. - Arcozelo das Maias – Aqui, sente-se um aproveitamento digno de nota, com a Estação a servir de Sede da Nova Geração, depois de devidamente restaurada. Compõe-se o quadro com um Polidesportivo e um bloco de Habitação Social. Feito mais um curto desvio, o percurso normal, à direita, não se faz esperar. Com piso renovado, outro bom retoque, com bermas limpas, ali não há problemas de maior em circular-se. - Ribeiradio – Ao cruzar com a também sofredora EN16, a Passagem de Nível tem, em frente, um estorvo, já anunciado: uma rede a vedar aquilo que foi “estrada” de ferro, parecendo-nos que ali pode haver solução possível e plausível, procurando-se o consenso para evitar problemas de maior. De qualquer maneira, logo adiante, deparamos com a recuperação da velha Casa do Capataz, também Sede de uma Associação e as magníficas instalações da mais do que centenária Banda Marcial Ribeiradiense, dois pontos que são o orgulho de seus autores e promotores e, um pouco, de todos nós. Vemos ainda um outro pólo de Habitação Social, sinal de vida própria para aquele espaço Nesta marcha, mais um portão a ter de ser repensado – aquele que ladeia o Parque Desportivo que, apesar de estar aberto, deve ser anulado, aqui também com a dose certa de diálogo e serenidade. Quanto ao Apeadeiro de Nossa Senhora Dolorosa, é uma lástima e um desatino aquilo que ali se vê. Entre Ribeiradio e Cedrim, o troço está num estado tal que se não aconselha. Salvam-se os dois túneis do Modorno, que não podem cair no esquecimento, nem a memória de um descarrilamento que ali houve há dezenas de anos. Como ponto de crescente interesse, ali temos a Barragem em todo o seu fulgor. Em termos de oportunidade para o arranque da entrada em funcionamento desta Linha, como pista turística, muito nos agrada a sugestão, que já vimos escrita, de a associar ao futuro – e ansiado, dizemos nós, sem cansar – lençol de água, um outro tempo do tempo que aí vem. - O inferno – Chegados perto do Extremo ( e este nome tem a ver com o fim de um distrito e início de outro, nesta caso, Aveiro e Viseu e Viseu e Aveiro) e dado o estado de abandono a que a Linha está votada, é de parar-se. Retome-se adiante, só para olhar o deserto que é o Apeadeiro de Cedrim, um monte de ruínas também. E de silvas e matagal. No lugar da Lomba, nesta freguesia, a via morreu. De todo. Cortada em grande parte, difícil será agora cosê-la pelas poucas pontas que restam. Mas, com engenho e arte, nada é impossível. Nem ali, onde o mal já está feito. Acabada aqui a nossa viagem, dali para baixo nada mais podemos dizer, por agora. Ficará para outra altura, claro. Partilhando este balanço, o nosso voto vai, inteirinho, para a necessidade de se fazer reviver a nossa velha Linha do Vale do Vouga, mesmo sem comboios, nem automotoras, que se perderam para sempre. Votamos nisso!... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, há poucos anos

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