quinta-feira, 10 de maio de 2018

A toponímia a ensinar-nos...

A toponímia como fonte para falarmos do nosso passado Por entre os muitos vestígios que nos levam a conhecer os tempos de antigamente, a toponímia, enquanto ponto de apoio para o devido estudo, tem uma boa palavra a dizer. Dissecando a formação dos vocábulos que se referem a locais, ruas e afins, chegaremos a um porto mais ou menos seguro, quanto à origem e formação desses espaços e, por conseguinte, ao conhecimento de quem nos antecedeu. Não sendo, porém, uma ciência exacta, dúvidas existem. Mas onde as não há? Mesmo que assim seja, é sempre melhor ter essa ferramenta à mão que vogar por cima do vazio. Qualquer dicionário, geralmente, faz referência à formação de cada uma das palavras e , assim, melhor ficamos a saber a sua razão de ser e a pertinência do seu significado. A partir de um exemplo, colhido no “Dicionário de Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa, Editorial Verbo, 2001”, bem percebemos de que estamos a falar. Com base nesta ideia, “história” provém do latim com a mesma grafia mas sem acento, que, por sua vez, radica no grego em caracteres que nos dispensamos de aqui transcrever, mais por não os sabermos do que por outro qualquer motivo. Seguem-se, depois, os vários significados, ora numa perspectiva isolada, ora em contextos diversos. É de relevar-se o facto de que esta Academia, na sua origem e como seu primeiro Presidente, se ficou a dever ao nosso II Duque de Lafões, D. João Carlos de Bragança e ao Abade Correia da Serra, nos finais do século XVIII. Nesta longa viagem e percorrendo as obras em que se abordam as nossas variadas localidades, quase sempre encontramos esta mesma metodologia. Uma delas, de fôlego e com muito detalhe, retrata o concelho de Vouzela, lugar a lugar, freguesia a freguesia, e tem como seu autor Mário João Pereira Loureiro. Trata-se de uma edição da Câmara Municipal, publicada no ano de 2007. Esta Toponímia, destaca o seu obreiro, contém “ Nótulas históricas e linguísticas”, abrangendo assim dois ramos da ciência, que muito úteis nos são. Começa por esclarecer que “ A toponímia, ramo da Linguística que tem por objectivo o estudo da origem e siginificado dos nomes de lugar (es), apresenta complexidade, por abarcar grande amplitude de domínios (...), de âmbito humano, geográfico, histórico, botânico, zoológico, etc”. Numa sucessão de casos, aponte-se Alcofra, no município de Vouzela, que “provém de al-kafr (através da evolução Alcafra, Alcofra...), significando infiel, ou renegado, designação dada pelos muçulmanos aos cristãos” (p. 19). Já Cambra tem origem”... segundo alguns, em Cambar, nome possivelmente pré-românico, atribuído ao Rio Alfusqueiro em documentos dos séculos XI e XII e designativo da povoação até ao século XIV” (p. 29). Para Varzielas, no concelho de Oliveira de Frades, a explicação passa por se entender que é um “Topónimo oronímico, abundante no norte do país, que provèm do nome várzea (latim varcena-) com o sufixo diminuitivo - elas, tendo o sentido de pequenas chãs ou planícies cultivadas” (p. 45) Agora, situando-nos em S. Pedro do Sul, pegamos num outro tipo de documento, designadamente o “Projecto de Lei nº 696/X/4ª – Elevação da vila (...) à categoria de cidade”, sendo que aí se lança mão da própria etimologia, logo nas primeiras palavras, para dar a ideia do longo historial destes povos de “Sancti Petri do Sur”, como se vê em escritos do século XI, aludindo-se à origem árabe de “sur”, que se situa “in terra Alahuni”. Quanto a este antecedente do actual Lafões, são múltiplas e divergentes as diversas interpretações que, a esse nível, nos aparecem por aí, desde a lembrança dos dois irmãos, os Montes Lafão e Castelo, a outras mais, mas todas elas convergem num ponto algo essencial: o “al”, em alavoenes e outros vocábulos da mesma família, está praticamente sempre presente. Uma outra fonte digna de nota para a discussão destas temáticas é o “Cadastro da população do Reino (1527)”, anotando-se aí povoado a povoado em grafia da época, mas que tem implícito já o caminho para os nomes de hoje. Distribuindo-nos pelos três municípios desta Região temos, em curtas referências por cada um: - Antes, porém, falemos da zona no seu todo – No comçelho de lafõis viuem moradores – 1956 - De Oliveira de Frades, então não existente, por ser um Couto, mas retirando as designações dos outros concelhos dessa época - Rybeira dio, espimdello, naldea do souto, bamdouapis (Bandonagens), arcuzelo, amtre as auguas. - De S. Pedro do Sul – fygeyredo, outeyro da comemda, lamdeyra, dryzes, candall, formomtellos. - De Vouzela – cambarynho, levydes, carregall, quymtã da caularia, vallgode, codeseyra. Indo para outros patamares, as ruas, avenidas, largos, praças e becos são um manancial de património e história que se tornam verdadeiros tratados de conhecimento e de borrachas que servem, em cada período, para apagar memórias e alusões tidas como inconvenientes. Por elas passa a linguagem dos vencedores e o esquecimento de quem teve a sina de ficar para trás. Sendo este um aspecto de que falaremos dentro de algum tempo, vejam-se em Vouzela a Praça da República (ex- Praça Velha) e o Largo Moraes Carvalho (Praça Nova). E não vamos muito mais longe, porque exemplos destas situações nos aparecem por todo o lado. Veremos isso... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 10 mai18

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