segunda-feira, 28 de maio de 2018

Quem é quem na formação de Lafões

Personalidades marcantes na génese de Lafões Do Imperador Ramiro a Dom João Peculiar Cada espaço abriga as suas próprias gentes, desde que começa o seu povoamento. Porém, nem todas as pessoas conseguiram subir ao patamar do destaque que as faça perdurar na História. É sempre assim: as mãos cavadoras, os arttífices de cada terra passam a ser esquecidos e, em seu lugar, vêm ao de cima aquelas que consideramos as personalidades marcantes. A região de Lafões, até pelas suas fortes ligações aos fundadores do Condado Portucalense e aos futuros reis de Portugal, tem uma vasta e notável lista de quem se foi destacando ao longo dos tempos. Nestas crónicas gravadas no jornal “Notícias de Lafões”, vamos fazer uma longa mas agradável viagem pelas vidas desses nossos antepassados, sobretudo daqueles de que há registos e memórias. Começamos, por estranho que possa parecer, por alguém que dividiu o seu protagonismo por Lafões, por Viseu e por Léon (hoje, Espanha): trata-se do Rei e Imperador Ramiro, neto de Afonso III, que exerceu funções entre 930 (?) e 951. Apanhado nas teias de discussões familiares, vem a ser criado, durante alguns anos, pela família de Diogo Fernandes, habitando mesmo o Paço de Moçâmedes – Vouzela, talvez entre 900 a 912, imóvel que ainda ali se mantém. Supõe-se que também andou muito por Bordonhos (cujo topónimo se associa ao próprio Ordonho) e outros espaços desta nossa zona. Como é que tudo isto aconteceu e foi possível inserir na história grande da Península Ibérica estes nossos recantos? Falando por nós, o interesse por esta personagem veio-nos de um feliz encontro com o Professor Manuel Real, que, nos anos de 2014 e 2015, nos falou do Rei Ramiro e suas ligações a estas paragens. Estava dado o tom para a continuação da investigação sobre tão fascinante figura. De busca em busca, deparamo-nos, entre outras fontes, com uma importante tese de doutoramento, feita na Universidade de Coimbra, em 2016, da autoria de Paulo Manuel Quintas de Almeida Fernandes – “Matéria das Astúrias – Ritmos e realizações da expansão asturiano-leonesa no actual centro de Portugal”. Com o título a despertar a nossa atenção, o resultado obtido não poderia ser melhor, como veremos de seguida. Tudo isto acontece em pleno contexto da Reconquista, a suceder à invasão islâmica (ano de 711) que não pode ser vista como uma entrada “ fulgurante, destrutiva, sanguinária e intolerante” (p. 30), mas antes como um processo conseguido à custa de diferentes processos, ora mais bélicos, ora mais pacíficos, incuindo a concretização de pactos diversos e em diferentes zonas. Aliás, assegura Paulo Fernandes que os muçulmanos nunca ocuparam largas faixas a norte do Tejo. Sendo sabido que a Reconquista foi feita de norte para sul, no sentido inverso daquele que fora seguido pelos árabes, muito antes da fundação do Reino de Portugal já estes territórios andavam na berlinda e nas intenções de virem a ser ocupados por quem vivia e governava para lá do Douro e do Minho. Assim, durante o reinado de Afonso III (866-910), avô do nosso Ramiro, estava já em marcha a ideia de colonizar as terras situadas entre o Mondego e o Douro (p. 195). O destino veio, por fim, a ditar algo de muito especial - a entrada em cena de alguém que haveria de ser monarca num lado e noutro, nomeadamente em Léon e Viseu. Agora vamos aos pormenores e aos aspectos que levaram a este ponto: com a morte de Afonso III, os seus três filhos repartem a herança recebida. A Ordonho cabe a Galiza; a Garcia, Léon; e a Friela, as Astúrias. Mais tarde, os descendentes de Ordonho da Galiza também se não entendem e, por isso, originam-se novas divisões: Sancho recebe a Galiza, Afonso IV fica com a parcela asturiana e Ramiro, o quase lafonense, a parte ocidental com a sede em Viseu. No meio disto tudo, Afonso IV veio a abdicar e Ramiro II ( o nosso) consegue unificar o reino e governar a partir de Léon entre 926 e 950. Pergunta-se: como é que ele tinha vindo antes parar a Moçâmedes? Em linhas muito gerais, tudo se deve, para resolver várias desavenças, à ligação de Ordonho II, seu pai, com a família de Diogo Fernandes, a quem entregou, para ser criado, seu próprio filho Ramiro, tal como sustenta José Mattoso. Qualquer que seja a razão que esteve na sua vivência nestas nossas terras, o dado maior e mais relevante é que Moçâmedes e Viseu jamais se apartaram da história deste passado comum com a Galiza. Sabe-se ainda que, como irmão de leite de Mumadona Dias, o nosso Rei luso-galego, Ramiro, lhe deu um bom dote e isso revelou-se importante para a formação futura do Condado Portucalense. Diz-se também que aqui fez várias vistas, a Lorvão (933), a Celanova (942) e a Guimarães (950). Com várias arestas para limar, do Imperador Ramiro ficámos a saber mais uns detalhes. Mas não todos. Numa próxima oportunidade, vamos tentar aclarar melhor este seu Reinado e falar de um Bispo e fundador (?) do Mosteiro de S. Cristóvão de Lafões, Dom João Peculiar, que foi fulcral como estratega, como gente de alto nível, no reinado de D. Afonso Henriques. Este é o nosso propósito e lá iremos chegar, dentro em breve... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 17 Maio 2018

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