quarta-feira, 16 de maio de 2018

A velha e a nova vila de Vouzela

Nvouzela18jun15 Vouzela no centro de Lafões A meio da encosta do Monte Castelo e de seu irmão Lafão, que, juntos, segundo se crê, deram origem à própria designação desta Região, a de Alafões, ou Lafões, mais especificamente, fica a vila de Vouzela, a terra de Vaucella, com o Vouga aos seus pés. Com este Rio como sua marca, uma outra se lhe cola na perfeição, a da sua profunda ligação à Serra do Caramulo. Com uma grande antiguidade, a sua história está cheia de dados de extrema importância, daqui tendo saído alguns dos mais prestigiados obreiros do nosso passado nacional, local e regional e até em termos de além-mar. Sede de freguesia, por si só, desde há muitos anos, agora faz parte da União que congrega também Paços de Vilharigues, que, com sua Torre, nesta tem um bom farol, a indicar tempos de outrora, renovados recentemente, estabelecendo um bom diálogo com a Nossa Senhora do Castelo e com o Monte Gamardo. Partindo nós de uma recolha de dados que remonta a a 1889, esta terra de S. Frei Gil, D. Duarte de Almeida, João Ramalho, Padre Simão Rodrigues de Azevedo e Morais Carvalho, entre tanta outra gente de peso, distribuía-se então pela Vila, Igreja (sic), Valgode, Caritel e os casais de Linhares, Cabrela, Ribeirinha, Candeeira, Pombal, S. Paio, Foz, Crujo, Ermida, Cavada, Pinheiro, Matas e Costeira, contando ainda com as Quintas da Sarnada (?), Continha, Lamas, Costeira, Matas, Regadas, Caritel, Poldras, Portelo, Porto-Salto, Cavalaria, Valgode, Avelar e Linhares, falando-se apenas da freguesia dessa época. Na vila, duas praças, a de Cima, a Velha, e a de Baixo, a Nova, rivalizavam entre si, isto é, a Praça da República e o Largo Morais Carvalho eram os centros que aqui se distinguiam. Entre estes espaços e a Igreja Matriz, ficava o Largo da Corredoura, local da Feira de então, pensando nós de que se trata da actual Alameda. Por estes sítios, ganhavam o seu sustento alguns comerciantes, dois farmacêuticos, ferreiros, serralheiros, sapateiros, alfaiates, havendo ainda oficinas de tecelagem de panos de linho, de estopa e burel, quatro fornos de poia (pão) e pisões nos Rios Vouga, todo o ano, e no Zela, em época de fortes caudais. Com uma boa centralidade política, a associação, por exemplo, do Pai de S. Frei Gil à corte e à “Câmara” de Coimbra, de D. Duarte de Almeida aos homens do D. Afonso V, de João Ramalho à colonização do Brasil, do Padre Simão de Azevedo à fundação da Companhia de Jesus e de Morais Carvalho à fina flor do Liberalismo fazem com que todas estas evidências sejam disso um testemunho indesmentível. Num tempo em que os aspectos religiosos também andavam de mão dada com as forças políticas, justificam-se as Igrejas e Capelas que por aqui foram existindo ao longo dos tempos: Igreja Matriz, da Misericórdia, de S. Frei Gil, Capela de Nossa Senhora do Castelo, de S. Sebastião, de S. João (Casa das Ameias, em preocupantes ruínas), de S. Pedro (Valgode), de Santa Catarina (Quinta da Sarnada). Em monumentalidade, porém, há muito mais a citar: Ponte, na Rua do mesmo nome, toda ela um património incalculável, Fonte da Nogueira, edifício da Antiga Câmara (Biblioteca Municipal), Museu Municipal, Estátua de Morais Carvalho, casas senhoriais e brasonadas, sendo por isso quase lícito afirmar-se que se está perante uma Vila-Museu. Assim sendo, se é importante valorizá-la e preservá-la, não menos determinante é, para um seu futuro sustentável, rasgar-lhe outros horizontes fora de muros, se assim se pode falar. Como é reduzido o espaço a ocupar, fiquemo-nos com estas datas e respectivas evocações, extraídas de um desdobrável das Festas do Castelo: 1093 – um dos primeiros documentos escritos sobre esta vila; 1307 – criação da Feira; 1436 – concelho de Lafões, D. Duarte; 1882 – estátua Morais Carvalho; 1885 – fundação dos Bombeiros; 1904 – ponte sobre o Rio Vouga; 1926 – Mercado Municipal; 1927 – extinção da Comarca, restaurada em 1973; 1929 – iluminação eléctrica; 1929 – Associação os Vouzelenses; 1931 – em segunda fase, Sociedade Musical Vouzelense; 1935 – Notícias de Vouzela; 1959 – Hospital da Misericórdia; 1962 – Colégio de S. Frei Gil; 1964 – Cooperativa Agrícola de Lafões; 1966 – Quartel dos Bombeiros/Prédio das Colectividades. Do passado recente, muito anda por aqui escrito. E dos tempos de outrora fica quase tudo por dizer, mas não é possível ir mais longe, por agora. Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”, Junho, 2015

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