sábado, 19 de maio de 2018
Dia Internacional dos Museus, uma conversa em Oliveira de Frades
PATRIMÓNIO, Dia dos Museus, Oliveira de Frades
18 Maio 2018
- 2018 – ANO EUROPEU DO PATRIMÓNIO CULTURAL
TÓPICOS
- NOTA PRÈVIA --- Sempre e sempre o primeiro e mais valioso PATRIMÓNIO são as PESSOAS. Só elas são a sua razão de existir.
- PATRIMÓNIO --- De patrum, patrimonium, pater.
--- Material --- Bens visíveis
--- Imaterial --- Invisíveis
- Natural e cultural. Paisagens naturais e humanizadas.
- Se matrimónio é a união entre duas pessoas, património pode muito bem ser a ligação entre o homem e as suas heranças culturais, em função do afecto e da razão
- Património – Bens vindos do passado, herança comum, um bem da comunidade, obra humana, construção social ou da natureza
- Valores – Identidade, diversidade, significado, autenticidade, beleza
- Cuidados – conservação, preservação, renovação, restauro, salvaguarda, valorização, divulgação
- O património é um dos bons e estruturantes activos de desenvolvimento de nossos territórios. Não é deslocalizável, em princípio, apela a sentimentos de pertença e identidade, mobiliza os nossos sentimentos, atrai visitantes, faz com que cada um de nós sinta orgulho em divulgá-lo e em senti-lo como seu, com o gosto de o mostrar aos outros
- Um povo que não estima as suas heranças é um povo que não pode gerar algo de valioso e marcante para deixar às gerações vindouras
- O património anda por aí nas canções, nos costumes, nas tradições, na boca de coração de nossas gentes, em cada dia que passa, em que cada festividade que se assinale, tanto como nas construções, nas matas, nos rios, nos parques naturais ou criados pelo homem. Ei-lo aqui e por todo o lado. Na sua diferença na afectação a cada local e a cada cultura é que está a sua riqueza maior.
- Em termos muito gerais, dividimo-lo, à nossa maneira, em duas fases/classes:
- Pré-Histórico – De significado mais ou menos conhecido, passando por códigos ainda praticamente indecifráveis, ou polissémicos até mais não. Em enigmas vários, caminhamos por aí sem sabermos bem por onde andamos, tendo, porém, a consciência que estamos perante trabalhos com milhares de anos de existência.
- Histórico – Da escrita, dos romanos até à actualidade, ainda que nem tudo compreendamos com a clareza necessária, mas, aqui, é mais a luz que nos ilumina que a escuridão que nos tolhe os movimentos.
PERPETUAR A MEMÓRIA
- Somos filhos de cada tempo
- Recebemos heranças, devemos conservá-las e transmiti-las aos nossos descendentes, mas acrescentando sempre algo de novo
- Se o PATRIMÓNIO é para ser observado por toda a gente, não pode, nunca, deixar de ser usufruído e estimado por quem o habita. Deste modo, importa sempre que nunca tenhamos muito para oferecer e pouca gente por aqui a viver
- É preciso pôr o património, todo ele, a falar
- Mas “ Só se ama o que se conhece. E conhecer é difícil. Muito pior se quem pode não faz o esforço de dar a conhecer” – In “ A floresta em Portugal – Um apelo à inquietação, Víctor Louro, Gradiva, 2017”
- PATRIMÓNIO E LITERATURA
--- Teixeira de Pascoaes – “ ///Vejo as terras beiroas, que recordam/ O Minho e Trás-os-Montes... / São desertos planaltos amarelos/Verdes campos de milho/Entre íngremes colinas de pinheiros/ Onde murmura o vento o seu queixume/De cor crepuscular.../Afastadas montanhas: Caramulo/E Montemuro e a Estrela/Virgem Mãe do Mondego em penitência/ Vestindo um manto de perpétua neve... /// - In “ Portugal, a terra e o homem, antologia de textos de escritores do século XX, David Mourão-Ferreira, II Volume, 1ª série, FCG, 1979”
--- Trás-os-Montes, um Reino Maravilhoso... “ Um mundo! Um nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia, que tanto se levanta a pino num ímpeto de subir ao céu, como se afunda nuns abismos de angústia não se saber por que telúrica contrição... Não se vê por que maneira este solo é capaz de dar pão e vinho. Mas dá... “ (Idem)
- “ Duas dúzias de casas construídas de pedra solta de granito, cobertas quase todas de colmo, de telha muito poucas, alcachinadas, negras, tortuosas e dispostas ao ao acaso sobre o solo, como um bando de enormes corvos petrificados. O tom escuro das suas choças e dos seus casebres casa-se tão intimamente com a cor do terreno pedregoso e tostado que, vista de algumas centenas de metros de distência, a povoação parece uma pedreira... “ – A. Botelho, Mulheres da Beira
- “ Um vale, um rio, os montes/Povoados dispersos/Aqui além/Quais jóias incrustadas na verdura/De cerrados horizontes// No cimo, um céu escasso/Limitado pelas linhas das montanhas/Guardando avaramente o seu tesouro/Sem permitir um passo/ Para fora// Lafões... / A harmonia do belo/O desespero do pouco/ A ânsia ardente/Do infinito/Tentando passar além/Inutilmente// Que os montes ciosos/Recolhem o seu esplendor/Vaidosamente/Ali se impõem/ Ali são donos/Princípio e termo/ O infinito...// Lafões, quão belo!/ Lafões, quão pouco! /// - Berta Brás – Cravos roxos, Croniquetas verdes-rubras
- “ A altitude, as lonjuras em que a vista se alonga, e onde aqui e além cintilam à luz do sol as casinhas coloridas dos povoados, em cujas cercanias os verdes volvem mais moços e macios graças às vinhas e milheirais, tudo isso nos surpreende, nos empolga, nos enternece, não quer afastar-se dos nossos olhos, nos diminui, nos desorganiza! “ – Mário Rodrigues Cruzeiro, Momentos, 2008
- “ As casas, os caminhos, as estradas, os canais, os túneis, a cobertura vegetal do solo, as culturas, as explorações mineiras, os portos, as pontes são manifestações do poder humano... “ – In “Aristides Amorim Girão, Lições de Geografia Humana, Coimbra, 1936, p. 5 ” - E ainda “ .... È o homem o agente modificador da superfície terrestre. Mas também sofre a influência do meio físico... “ (Id)
PATRIMÓNIO ao abandono
- Santa Cruz da Trapa – Solar dos Malafaias
- Cambra – Casa Senhorial
- Pereiras – Casa dos Melos
- Ribeiradio – Fábrica de Cerâmica
- S. Vicente de Lafões – Antiga estação dos caminhos de ferro do Vale do Vouga
- Complexos empresariais junto à Linha do Norte em quase toda a sua extensão
Bons EXEMPLOS de recuperação e novos usos
- Mosteiro de S. Cristóvão de Lafões
- Balneário Romano das Termas de S. Pedro do Sul
- Solar, Igreja, Cambra
- Casa do Aido Santo - Nespereira
- Casa do Paço de Vilharigues (Cabo da Torre)
- Torres de Alcofra, Cambra, Vilharigues
- Redescoberta da Anta de Antelas ( com cuidados a ter no futuro)
- Casa do Paço – Bordonhos
- Igreja antiga de S. Miguel do Mato
- Património classificado
- Em princípio e em geral, temos estes sistemas de classificação:
- Interesse Nacional/Monumento Nacional (em Conselho de Ministros)
- Interesse Público ( No respectivo responsável ministerial ou delegação em causa)
- Interesse Municipal (No município)
- Lei 107/2001, de 8 de Setembro e Decreto-Lei 309/2009, de 23 de Outubro
- Estipulam-se zonas gerais e específicas de protecção com limitação às construções a certa distância
- Oliveira de Frades
- Anta de Arca – MN – 1910
- Casa Solarenga de Fornelo – VC (em vias de Classificação) – 1998
- “ “ “ Quintela – VC – 1998
- Pedra das Ferraduras Pintadas – MN – 1993
- Pelourinho – IIP – 1933
- Anta de Antelas – MN – 1993
- Ponte Ferroviária dos Melos – VC – 1998
- Pedra do Rasto dos Mouros – MN – 1910
- Conjunto Igreja Pinheiro – VC – 2001
- Igreja de Souto
- S. Pedro do Sul
- Castro de Nossa Senhora da Guia – MN – 1992
- Capela e Adro no mesmo local – MN – 1992
- Castro da Cárcoda/Carvalhais – IIP – 1955
- Igreja de Nossa Senhora da Nazaré – VC – 1995
- Igreja Matriz de Carvalhais – VC – 1950
- Ponte da Barreira, Manhouce – IIP – 1990
- Ponte de Manhouce – IIP – 1982
- Solar dos Malafaias, Santa Cruz da Trapa – VC – 1997
- Convento de S. Cristóvão de Lafões – MIP – 2010
- Piscina D. Afonso Henriques/Termas- MN – 1958
- Castro do Banho – IIP – 1957
- Convento dos Franciscanos ou de S. José – IIP – 1943
- Palácio de Reriz – IIP – 1977
- Pedra da Escrita/Serrazes – IIP – 1946
- Vouzela
- Casa Solar Igreja, Cambra – VC – 1984
- Idem, Corujeira – VC – 1984
- Igreja Paroquial de Cambra – IIP – 1945
- Castro Cabeço do Couço – IIP – 1995
- Igreja de Fataunços – IIP – 1996
- Castro de Paços de Vilharigues – VC
- Castelo/Torre de Vilharigues – IIP – 1944
- Capela Casa de Prazias, Ventosa – IIP – 1945
- Igreja Matriz de Vouzela – MN – 1922
- Casa dos Távoras – VC – 1984
- Paços do Concelho antigos/Biblioteca Municipal – VC – 1984
- Museu Municipal – VC – 1984
- Pelourinho – IIP - 1933
- Imagens de marca em Lafões
- Se o nosso património é, só por si, algo que nos distingue de todos os outros espaços territoriais, Lafões tem uma marca muito própria, um património ímpar, porque nestas terras“ ... Em pleno coração da Beira Alta, uma unidade bem característica, toda ela incluída na Bacia do Vouga, nos aparece agora: é a sub-região de Lafões (... ), uma continuação da zona que designámos pelo nome de Beira minhota e pode afinal considerar-se um prolongamento projectado até ao coração da Beira-Alta (...) Os seus campos de cultura, xadrezados pelos cômoros de divisão da propriedade, onde a vinha se abraça às árvores de fruto, e emoldurados ainda pelas matas de pinheiros, carvalhos e castanheiros que revestem as maiores elevações de terreno, oferecem, com efeito, ao turista, um surpreendente espectáculo sem dúvida interessante: um pequeno retalho do Minho perdido em plena região montanhosa da Beira Central... “ – A. Amorim Girão.
- Ocupando estes espaços, o homem, ao longo de milénios, deixou a sua pegada construtiva, uma mais valiosa que outra, mas todas elas fruto da força criativa de nossos antepassados. É esse o PATRIMÒNIO que deles recebemos e que temos obrigação de por ele zelar- A par dessas obras de mão humana, a natureza tem, aqui, um papel de relevo.
- Desta, herdámos as montanhas do Caramulo, da Arada, da Gralheira, de S. Macário, locais de magia e encanto. Nelas encontramos a beleza agreste das alturas, os parques frondosos, aquém e além, as reservas naturais, como os Loendros de Cambarinho, que, sujeitos à inclemência dos trágicos incêndios de Outubro de 2017, são agora uma tristeza negra que se apresenta à nossa frente, mas que vão, de certeza, voltar a renascer como fontes de património natural que tanto nos enriquecem.
- Nos Rios Vouga, Sul, Zela, Alfusqueiro, Gaia, Àgueda, Teixeira, Alcofra e tantos outros, vemos outra componente paisagística e patrimonial que nos enchem a alma, o olhar e o coração.
- Nestes sistemas, vivem os animais que nos caracterizam como produtores de um património gastronómico de eleição, desde a vitela ao cabrito e a outras espécies da nossa fauna e flora.
- Mãos sábias, inventaram, um dia, para nos deixarem em herança a melhor doçaria e pastelaria do mundo, outra parte importantíssima do nosso património.
- No campo da construção, em casas com muita memória, temos, por exemplo, a Casa do Paço, em Moçâmedes, onde, antes mesmo da nossa nacionalidade, viveu o Imperador Ramiro, que liderou parte da Galiza e dizem que Viseu; a Quinta da Cavalaria, em Vouzela, berço de tantos vultos desta terra; o Solar dos Marqueses de Reriz, em S. Pedro do Sul, que acolheu, por diversas vezes, a Rainha D. Amélia e sua Família; o Balneário Romano das Termas, porto de abrigo e de cura do Rei D. Afonso Henriques; a Casa dos Melos, em Pereiras, uma família de nossos ilustres conterrâneos; a Quinta de Torneiros, em Oliveirade Frades, hoje um grito de alerta a pedir que a salvem, por favor; o Convento de S. Cristóvão de Lafões, que foi palco de cultura e de religiosidade, desde o século XII, de toda esta nossa região.
- O que tem sido feito pelo PATRIMÓNIO
- Com épocas de relativos sucessos e outras de desleixo ou abandono propositado, tem havido as duas posições ao longo dos tempos e dos lugares.
Proliferam, por aquém e por além, as provas do carinho que se lhes dedica e as lágrimas de dor pela sua queda abrupta rumo à sua destruição total.
Muitos são os exemplos de cuidados criteriosos e com óbvio retorno a todos os níveis. Veja-se Óbidos e outras localidades. Veja-se o Parque Natural do Gerês e outros. Anotem-se os milhares de visitantes que acorrem a uns sítios e a outros. Mas também há quase fracassos como o das Aldeias Históricas, 12 ao todo, valorizadas há mais de 20 anos, e que, agora, uma tese de doutoramento de Paula Reis, FLUC, nos indica que estas se encontram numa fraca dinâmica ou praticamente estagnadas. No entanto, insvestiram nelas cerca de 60 milhões de euros. Mas o certo é que, em dez anos, uma dezena delas perdeu 683 habitantes.
Contrariamente a esta visão pessimista, o Parque do Pisão em Carvalhais e a recuperação da Aldeia da Pena parecem-nos serem um bom e positivo caso de estudo.
O mesmo se espera, daqui a uns anos, poder vir a dizer daquelas aldeias que fazem parte de um novo projecto a criar na Serra do Caramulo.
Já agora, por razões que se prendem com relevantes conquistas no campo da saúde, anote-se o que foi esta vila até há décadas e o que é hoje: um monte de destroços do seu anterior pujante património.
- O que FAZER
- Manter as memórias vivas, todas elas. Sermos arautos da defesa do nosso passado e construtores de novas pontes para o futuro. Agirmos sob o lema da responsabilidade, da autenticidade e da sustentabilidade das terras em que vivemos. Definirmos prioridades, pessoais, colectivas e instituicionais.
Porque abençoados somos nós com as antas, os castros, as vias romanas, as igrejas e capelas, as estelas funerárias, as sepulturas antropomórficas, os palácios, as casas simples e rurais, os cantares, as águas, os moinhos, os lavadouros, as poldras, as alminhas, os foeiros dos carros de vacas, as charruas, os arados, as enxadas, as malhadeiras, a calçada à portuguesa, a broa de milho, as tradições diversas, o venha aqui, amigo, que tem uma porta aberta, uma pinga e um naco de presunto à sua espera, o parta comigo para a romaria, as danças, o folclore, o entremês, as filarmónicas, as novas artes, hoje recentes, amanhã também memórias de um outro tempo, a gaita de beiços, a boleia no carro das vacas, a malha do centeio, o alto do Murado da Várzea, as brilhantes pinturas da anta de Antelas, a anta da Lapa da Meruje, o Castro da Cárcoda, as águas quentes das termas e o Castro do Banho, o nascer do sol no S. Macário, o mar visto de Lameiro Longo, o Santuário de Nossa Senhora Dolorosa e as abundantes águas da Barragem de Ribeiradio... Aqui, em Lafões, até o ar é bom património.
Não temos grandes castelos, mas possuímos pedras e paisagens que falam e pontes que nos levam para muitas outras valiosas vertentes de um rico património.
Venha, veja, desfrute. O nosso PATRIMÓNIO quer receber os seus abraços. Venha e fique por uns dias. Nós agradecemos.
- QUEM É QUEM na defesa e divulgação do nosso património: a nossa homenagem
- Aristides de Amorim Girão
- Monsenhor Celso Tavares da Silva
- José Júlio César
- José Coelho
- João Luís Inês Vaz
- Alexandre Alves
- Manuel Correia Tavares
- Alberto Correia
- Moreira de Figueiredo
- António Nazaré de Oliveira
- António Lopes Baptista
- Jorge Adolfo Meneses Marques
- Domingos Cruz
- Etc. Etc
Oliveira de Frades, 18 de Maio de 2018
Carlos Rodrigues
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário