quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Frio em Lisboa

Combinando o Tejo com o Oceano Atlântico, que está a uma meia dúzia, esticadinha, é certo, de quilómetros, esta cidade de Lisboa, comparada com o Caramulo e a Estrela, é uma espécie de aquecedor ambulante.
Mas em dias de frio um pouco mais atrevido, como está a acontecer, não é assim pera doce,nem flor que se cheire e se goste em excesso: sem exigir que se tapem a cara e as mãos, também se não pode andar ao léu.
Nesta quadra, que o Natal deixou para trás, com todas as letras e significações, ainda que outros o festejem mais tardiamente, o que muito nos dói e esfrangalha a alma é a existência perdida de tanta gente sem tecto, sem abrigo, sem um aceno de simpatia, sem esperança, sem pensar em qualquer crise que a sua vida dela não escapa um minuto sequer. Ver esses irmãos, agarrados a sacos de papéis e a olhar o horizonte vazio, é um sinal que devia despertar em nós um sentimento de acção e não um choradinho que o vento se enacrrega de levar para onde quiser, talvez nunca para onde seria mais aconselhável.
Sensíveis a esta chaga social, agrada-nos imenso saber que há pessoas e entidades que, de uma forma voluntariosa e altruísta, a eles se dedicam de corpo inteiro, numa entrega que temos de louvar e apreciar. Mas, apesar disso, há sempre nesgas que ficam para trás e, se assim é, porque cada ser humano é um pedaço de nós próprios, tudo é pouco e nada é muito.
Nestes dias de frio em Lisboa, há quem sofra muito mais que todos nós, aqui e em toda a parte.
Acudir a esses gritos calados de dor, que tocam o céu e não são ouvidos na terra, é um dever e uma necessidade absoluta. Bem haja, então, a quem cuida de sarar essas feridas, esquecendo-se de si mesmo.

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