domingo, 20 de março de 2016

Recordar o criador do Hino de Lafões, Celestino Severino

A vida do autor do Hino de Lafões O povo da Região de Lafões, que abrange, grosso modo, os concelhos de Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul e Vouzela, a que se juntam algumas freguesias periféricas dos municípios vizinhos de Sever do Vouga, Castro Daire e Viseu, abraça-se a uma série de símbolos comuns, desde o Vale do Vouga às Serras do Caramulo e da Gralheira, para além de muitos outros, sendo que um deles é especial e constitui um poderoso traço de união – o nosso Hino. Na sua origem, temos um cidadão ilustre, nosso antepassado, que viveu nos séculos XIX e XX, nascido no remoto e pequeno lugar da Malhada, freguesia de Alcofra, a 24 de Janeiro de 1863, que se chamou Celestino Henriques Correia Severino. Seu Pai era o Dr. Manuel Henriques Correia Severino e sua mãe, a D. Margarida Henriques Almira, como assinalou Arlindo Correia, de Campia, em escrito sobre este poeta que tão bem retratou, com sua pena, estas nossas terras. Juntou ainda mais uma série de informações, tais como a de ter, na altura, um irmão a paroquiar Pinheiro de Lafões, o Padre Diamantino Severino, e de ter estudado em Viseu, no Liceu, para tirar o curso de Direito em Coimbra. Na tumultuosa divisão administrativa desse século XIX, Alcofra pertencia então ao concelho de Oliveira de Frades, passando em 1871, para Vouzela. Ou por essa primeira ligação, ou por outras razões, o futuro Dr. Celestino Henriques Correia Severino viveu vários tempos naquela vila de Oliveira, na Quinta do Cabeço, lá bem no alto, num local com uma vista prodigiosa sobre parte do território de Lafões. Partindo desse posto de observação e dando largas à sua imaginação poética, no ano de 1882 escreve o Hino de Lafões. Dois anos antes, porém, em Viseu, já tinha escrito e publicado um verso solto, “ Um filho de Minerva”, seguindo-se-lhe, também em 1882, com base no texto de Arlindo Correia, o “Cântico dos Cânticos de Salomão” e, em 1885, “ Terramoto em Espanha”. Nesta cidade, ganha notoriedade como Advogado e cidadão activo e o seu nome aparece, com alguma frequência, em contribuições diversas nos jornais locais. Esta sua veia para a escrita, havia de o conduzir, com o Dr. António Figueirinhas (outro lafonense, notável pedagogo, fundador da Livraria com seu nome e com extensa obra educativa, em Oliveira de Frades, Viseu e no Porto, a par de outros locais e altas funções), a fundarem ambos um jornal naquela vila, “ O Lafões”, a começar de ser publicado no dia 5 de Maio de 1892, de que daremos nota mais detalhada na parte final deste trabalho. Com uma intensa vida cívica e social, o Dr. Celestino Henriques Correia Severino, um republicano de gema, ainda no período da Monarquia, seria um dos participantes da Revolta do 31 de Janeiro de 1891, no Porto, em que se pretendeu instaurar a República, operação condenada ao fracasso, tendo sido derrotados os seus promotores. Como prova desta sua ligação a esse acto revolucionário, vemo-lo a receber uma distinção oficial alusiva a essa fase da nossa vida colectiva, no ano de 1921, como se regista em obra de Paulo Jorge Estrela, do Instituto Geográfico Português/Academia Falerística de Portugal, 2011, no Anexo A, Relação das Instituições e Cidadãos Condecorados com a Medalha Comemorativa da Revolução de 31 de Janeiro de 1891, através de Decreto de 28 de Fevereiro de 1921, OE, 4, 2ª série, onde seu nome aparece bem referenciado. Quanto à sua passagem por Viseu, cidade onde também deixou marca, em edição referente ao Centenário dos Vinhos do Dão de 2008, para assinalar o dia 18 de Setembro de 1908, em que fora publicada a Carta de Lei que delimitava a área de produção da Região, ficou a saber-se que, a 22 de Outubro desse mesmo ano, em sessão havida no Salão de Baile do Grémio de Viseu, entre as pessoas e entidades que se fizeram associados, lá estava o Dr. Celestino Henriques Correia Severino. Dito isto, ficando ainda muito por desvendar acerca de sua obra de uma intensa vida cultural e profissional, recheada de episódios bem dignos de menção, há a registar a sua morte em 1924 e a oferta que faz de sua Biblioteca pessoal e demais documentação à Câmara Municipal de Oliveira de Frades, assim dando mais um contributo ao enriquecimento daquela que considerou ser a sua terra. Se múltiplos aspectos de sua vida ainda não estão totalmente desvendados, é certo que na Região de Lafões o seu nome está para sempre imortalizado, por ter sido o autor da letra do Hino que a todos nos une. Isso praticamente bastaria para perpetuar sua memória e seus feitos, tendo, por esse facto, o seu nome registado na toponímia da vila de Oliveira de Frades. Porque importa, agora, fazer mais umas considerações acerca do jornal que ajudou a fundar precisamente nestas mesmas paragens, “ O Lafões”, a ele vamos dedicar mais meia dúzia de parágrafos. Já o dissemos, mas vamos agora repeti-lo: o nº 1 saiu para a rua a 5 de Maio de 1892, sendo o nº 42 de 9 de Fevereiro de 1893. Partimos, para estas simples referências, de um nosso livro, em elaboração, dedicado aos mais de oitenta anos do actual jornal “Notícias de Vouzela”, em fase de ultimação. Foi seu Editor – José de Almeida Couto; Administradores – Tomaz Osório Saraiva e Custódio Pereira de Carvalho; Colaboradores Principais – Gomes Leal, Dr. António de Almeida Silva Campos de Melo, Serafim Fernandes, Dr. Emílio A. Ribeiro de Castro e Dr. Pedro Tavares (1910). Com uma vida agitada, cheia de altos e baixos, desaparecimentos e reentradas bruscas, algumas mais efémeras que outras, depois de em 1893 ter deixado de ser publicado, vemo-lo, de novo, em 1900 para seguir até 1911, voltando a encerrar, para regressar, uma vez mais, em 15 de Agosto de 1923, sensivelmente um ano antes da morte de um de seus fundadores, o Dr. Celestino Severino, em 1924. Na versão de 1900, era dominical e tinha como Editor – José de Almeida Couto; Encarregado de Redacção – Baltazar da Costa Azevedo; Impressão – Tipografia Universal, Cedofeita, Porto. Quanto a 1910, tínhamos nas duplas funções de Director e Proprietário – Manuel Ferreira Diogo; Editor – José Coelho Pinto da Costa Ferraz; Administração – Rua Bandeira Coelho; Impressão – Tipografias Minerva, Vila Nova de Famalicão e Casa Moderna –S. Pedro do Sul. Saltando para a nova série, a de 1923/1930, tinha uma periodicidade quinzenal, sendo seu Director e Editor – Padre Dr. António Rodrigues de Oliveira; Redactor Principal – Dr. João Ferreira Tavares; Secretário – Dr. Alexandre Armênio Maia; Redacção e Administração – Oliveira de Frades; Impressão – Tipografia Central de Viseu, Vouga –Albergaria-a-Velha, Minerva (Vila Nova Famalicão) e Silva, ainda Albergaria, de novo. Em 1926, era Secretário o Padre Manuel Tavares da Silva, havendo as colaborações especiais do Dr. Manuel Ferreira Diogo, Dr. Amorim Girão, A. Barbosa e os irmãos Augusto e Daniel Pinheiro de Almeida. Tendo nós começado com a evocação do Dr. Celestino Henriques Correia Severino, é justo que com ele terminemos estas curtas deambulações: partindo do Hino de Lafões, de que foi autor, acabámos com o jornal “ O Lafões”, que também partiu de sua iniciativa. Era tal a sua dedicação a esta Região, que a usou, em títulos, nestes dois de seus “monumentos” culturais e em muitos outros pontos e aspectos de sua vida. Merece, por tudo isto, a nossa consideração e o nosso grato reconhecimento. Carlos Rodrigues, Março, 2016.

Sem comentários: