quarta-feira, 25 de março de 2009

Dos postos às lojas do Correios

Já lá vai o tempo em que os velhos postos e estações dos Correios apenas tratavam daquilo que a esse sector dizia respeito, fazendo apenas algumas incursões pela banca e pelos pagamentos. Pequenas, como aquela que existia em Oliveira de Frades, na única Praça com tal nome, a de Luís Bandeira, onde toda a gente se cruzava, sempre com um cumprimento na ponta da língua, antes de, pomposamente, se instalar na Rua Luís de Camões, eram, indo além dessas funções, também um encontro e reencontro com todo o mundo: com poucos telefones, com raros jornais, sem qualquer assomo de Internet - nem o mais atrevido futurologista se atrevia a falar disso! - ali se recebiam as notícias, boas e más, as verdades e os desenganos. Ali desembocavam todos os rios e ribeiros do universo, que era tão grande quanto isso. Pouco mais, pensava-se.

Com o andar dos tempos, essas casas alargaram o seu âmbito de acção e hoje são um autêntico supermercado, que só não tem sabão, petróleo ao litro, vinho ao quartilho, queijo com e sem casca, broa, panos ao metro. Mas ali se encontram livros, lotaria, CD, canetas, lembranças, dinheiro aos montes, do real e do de papel, certificados de aforro, moeda que vai e vem, correio azul, verde, sem marca, logo branco, poucos faxes, menos telegramas e, acredite-se, nem um aerograma, o que é o melhor dos sinais: acabou a guerra, a do Ultramar, há anos, há muitos anos, graças a Deus...

É isto uma força nova, um agarrar de oportunidades diferentes, quando as tradicionais se esgotam, é isto um exemplo para o mundo empresarial: se deixa de haver quem compre o que se tem no balcão, engoda-se a clientela com produtos que melhor os colem, mais os fidelize. Importante é tê-los em fila, de etiqueta na mão, a aguardar vez, ordeiramente e com os olhos a girarem por tudo quanto seja montra. É, deste modo atrevido, uma publicidade eficiente e uma espera pró-activa, claro, para os Correios, que, numa mata sem cão, todos os gatos servem.

Interessa é vender. E esta gente mostra ter a matéria em dia. Parabéns, por isso, que a saudade das velhas Estações, por melhores recordações que nos tragam, não alimentam o corpo e, numa altura de crises atrás de crises, as estratégias mais aguerridas dão sempre resultado.

A inércia, aqui, pode matar. A lucidez para levar a novos passos é boa conselheira e os seus efeitos positivos, ao que parece, estão à vista.

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