sexta-feira, 20 de março de 2009

" Volto já "

Desta forma popular e simplista, uma loja, em plena Rua Augusta, a dois dedos do Rossio, anunciava que, por necessidade momentânea, iria fechar, com um " Volto já ", manuscrito, pessoalizado, sendo, por isso, a marca de quem escreveu tal mensagem. Enganou-se, porém, no tempo de espera: é que o ar de obras envelhecidas, os tapumes de papel, o "cheiro" a uma partida, praticamente sem retorno, indiciam um outro desfecho bem mais grave - a crise. Mostra-se, ali, como acontece um pouco por todo lado, que o pequeno comércio nem na Rua Augusta resiste a estes ventos demolidores, imparáveis, mortais.
Não sabemos quantas famílias, dependentes daquele estabelecimento comercial, engrossam a longa e triste fila dos novos pobres, em busca da sopa quente, por exemplo, da Legião da Boa Vontade. Não sabemos, repetimos, mas presumimos que dali tenham partido esses terríveis gritos de alerta e de ansiedade e que o seu efeito teime em não nos deixar dormir em paz. Tememos, isso tememos... Mas também não temos respostas, nem receitas, nem pão para lhes dar... Que, amanhã, melhores sejam os seus dias, que estes têm uma cor de carvão, apesar de a Primavera já nos ter visitado, igualando os dias e as noites, apenas por breves momentos!...
Amanhã, que desejamos mais amigo de todos nós e daqueles que, sem vendas na loja, tiveram de a abandonar, será outro dia: para eles, para toda a humanidade, talvez não seja tão bom quanto o nosso desejo e necessidades. Aguardemos, então.
Por África, agora pelos recantos onde Portugal deixou marcas, anda o Papa Bento XVI. Leva mensagens de esperança, mas carrega consigo alguns deslizes, que têm de ser repensados, que este Continente precisa de todos os meios para fugir dos seus terríveis flagelos e o da SIDA é um dos piores. Por isso, a condenação do uso do preservativo - ainda que compreendamos o seu alcance religioso - não é um sinal que se possa aplicar. Esperamos que essas palavras, essas sim, sejam apenas um " Volto já ", para as corrigir e retirar dos livros, que África não pode ser mais sacrificada, sendo assim um mal menor aquela prática... que devemos aceitar e até, pelo contrário, estimular.
Quem, por aqui, nunca usa um " Volto já " e quer estar sempre na crista da onda é o Dr.Mário Soares: por tudo e por nada, vem a terreiro manifestar a sua opinião e dar as suas receitas, não saindo de cena nem um segundo. Saúda-se essa vitalidade, essa jovialidade, essa irreverência e esse crescente apego ao exercício de uma cidadania activa. Respeitamos e apreciamos essa dinâmica, mas, às vezes, a bota não condiz com a perdigota: ao criticar a escolha do Dr. Durão Barroso para um segundo mandato à frente da Comissão da União Europeia, mostra que o seu ar partidário também não o leva a discernir tão bem como esperávamos.
Quando vemos esta nova proposta como um grande sinal de distinção e de apreço pela obra feita pelo nosso ilustre concidadão, sentimo-nos altamente satisfeitos e até orgulhosos. Não pensa de igual modo o Dr. Mário Soares, mas isso é lá com ele...
Aqui poderia antes ter ido ali e deixado no vidro um " Volto já ". Não o fez e com isso perdeu a oportunidade de, estando calado, ter prestado um melhor serviço a Portugal. Mas isso é lá com ele e só com ele... Que não se cale, nunca, que assim segue - ironia das ironias! - o velho lema do Dr. Manuel Alegre. Quem o diria ? ...

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